De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

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Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

segunda-feira, setembro 26, 2005

O meu primeiro beijo...

Há sempre uma primeira vez para tudo.
Como foi o primeiro beijo? Lembrei-me como se tivesse sido ontem.
Na escrita das minhas memórias, há uns tempos descrevi, aqueles que foram momentos (antes, durante e depois) marcados com estilete na lembrança duma vida. O texto que agora reproduzo tens os nomes trocados, isto é, como se fosse ficção. Mas não foi, foi real. Vejamos se consegui reproduzir todas as sensações marcantes. Quem andou no meu liceu, reconhecerá alguns nomes de professores e locais da cidade do meu coração, Lourenço Marques, hoje Maputo, onde nasci. Passa-se há quarenta e cinco anos atrás...
Vamos lá à primeira exposição... à primeira fotografia séria...

O meu primeiro beijo...


Naquela tarde não conseguia concentrar-me... já tinha sido repreendido na aula do Jardim... e agora com o Cardigos , a coisa fiava mais fino. Vou ser chamado? E, ali estava o sumário desgraçado: “ Meninos, o sumário é: chamadas...”

O meu coração estava em polvorosa. Será? E fui, e não é que o Cardigos, “mau c’umás cobras” director de ciclo, teve uma percepção tão real da situação que me disse: “Vá se sentar, hoje vejo que o nosso chefe de turma está na lua...”

Juro que na lua não estava, mas no liceu ao lado, no D.Ana , numa turmazinha de lindas raparigas, especialmente da Belita, aí estava de certeza. Quando o bezouro tocou, voei para a saida, e aguardei por ela. Fui no grupo dela, conversámos, e a caminho da baixa, o grupo foi ficando mais pequeno. Agora saia esta, agora aquele, e quando passámos ao Girassol, já só íamos quatro. No Rádio Clube ficámos só nós. O meu coração batia, qual fórmula um em dia de chuva, pois o medo era tanto.... Gente, era importante, eu ia pedir namoro pela primeira vez, e uma nega era o fim da macacada.... eu estava apanhadinho de verdade.

Continuávamos a andar e... a coragem não aparecia, o prédio onde ela morava, quase próximo e... nada. Até que um pretexto tão do nosso agrado, cinema, despoletou a coisa. Ia correr no Gil Vicente o filme “ Esplendor na Relva “, com o Warren Beauty e Natalie Wood... Sugestivo... E, lá me decidi. E as mulheres são tão manhosas.... só me respondia, no dia seguinte, porque... ia pensar! Foi a noite mais longa da época! No dia seguinte esperei pela entrada dela, (ia perdendo a primeira aula...) e respondeu-me finalmente com o sim esperado. Fiquei nas nuvens, agora sim na lua, completamente, desafiei as leis todas da física. Digno do "Xanico, xim, xenhor" ( o professor de física, bem conhecido...). Os dias seguintes foram duma beleza tal, que eu nem tinha conversa, era só platonismo... passados três dias, de a levar a casa, tive autorização de ir à missa de sábado, com ela, à catedral, às seis horas. E o autocarro para Boane ( onde morava, a trinta quilómetros) era às sete. Depois da missa, fui acompanhá-la, com tempo à justa para o "machimbombo". Mas como era em caminho, pois a paragem era ao pé da fábrica de cerveja, para os lados do Ferroviário, tudo calhava bem... E como já era escuro, quando passámos à porta da TAP e como o candeeiro estava apagado ... demos um beijinho, tão rápido e desajeitado, de fracções de segundo, e mesmo assim parecia que todo o mundo tinha visto! Deus meu, que lindo, que sensação! Tinha sido até então o beijo mais importante da minha vida! Depois de a deixar à porta de casa, eu voei, eu dancei, eu cumprimentava toda a gente, eu queria gritar que era feliz! Eu queria partilhar com todo o mundo o que sentia. E querem saber uma coisa? ... ainda hoje me arrepia, só de me recordar... Romantismo "bacoco"? Fora de moda? Se calhar, também eu vou ficando "démodé"...

PS: Gente boa, visto à luz do que a vida hoje nos mostra é, como dizer, quase absurdo, não acham? Já lá vão, mais de quarenta anos! Foi o beijo mais rápido e desageitado, que alguma vez dei, mas é aquele que recordo com mais saudade...
Ricky
Escrito em: 2003-11-24

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Oi mano
Parabéns.
Fiquei muito contente por saber que finalmente tens o teu Blog.
Força e sorte e escusado será dizer que aqui virei sempre que puder devorar avidamente as tuas histórias de vida e não só, que adoro ler.
Beijinhos da
Kiki

11:07 da tarde  
Blogger Henrique Santos said...

Como é importante o teu apoio. Obrigada maninha, espero vêr-te aqui mais vezes...
Bjinhos Ricky

8:36 da manhã  
Blogger Isabel Filipe said...

Oi Ricky...

Um texto já do meu conhecimento...
mas que foi bom reler....


bjs

10:19 da manhã  
Blogger Leonor said...

finalmente conheço o famoso texto que a margarida tanto elogiou.

é muito bonita a tua descrição. muito bonita.

abraço da leonor

11:21 da tarde  
Blogger Rato said...

Então e da Belita, o que foi feito?

1:23 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Oi Ricky. Li com agrado o que escreveste no teu blog. Os meus parabéns. Cá virei sempre que possa. Um beijo. Isabel Mimoso

5:20 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

encantador!

12:23 da tarde  

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