De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

Nome:
Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

sexta-feira, novembro 03, 2006

Por ser verdade...

























Por ser verdade...

Tínhamos chegado àquela terra havia dois dias. Não conhecia ninguém da minha idade, sete anos, que eu dizia com autoridade, ensaiando uma maturidade que ansiava por ter... África linda, com os seus silêncios bem barulhentos, com aquelas mangas saborosas, arrancadas da árvores e descascadas com os dentes, e chupadas até parecerem um tear de linhas expostas... Era o que me valia, as aulas só começavam na semana seguinte, mas a época das mangas estava aí a marcar as nódoas nas camisas, o que sinceramente, irritava a minha mãe. Até que apareceu outro solitário, o Jorgito, soube depois, filho do senhor Tembe, um negrão alto e espadaúdo... O filho dava mostras de ir por aquele caminho. Olhámo-nos, cumprimentámo-nos e começámos com as fisgas, que ele tinha uma melhor técnica para as fazer, desde o pau cruzado à forma como segurava os elásticos, com elásticos mais finos, cortados, criteriosamente, duma câmara velha que havia por ali...
Aquela amizade ficou desde logo selada. Já era o meu maior amigo! Minha mãe espreitou-nos e ficou mais descansada porque nos defenderíamos um ao outro, daquelas cobras traiçoeiras que por ali circundavam, nas mangueiras e no capim alto à volta do quintal. Chegou a hora do lanche, e lá apareceu a minha mãe a gritar: "Meninos para o lanche..." O Jorgito exitou, e eu? Sosseguei-o vem nada receies. E ali estava os copos de leite com ovomaltine e os pães com manteiga. Se a amizade estava selada já, ali ficou soldada...
Os dias se passaram, e as cenas do lanche repetiam-se, tornaram-se normais. Pai Tembe veio agradecer a gentileza, e tudo ficou "devidamente" consolidado.
Em áfrica, penso que não só em Moçambique, era costume as senhoras "brancas" visitarem as que chegavam de novo ao local, para lhes oferecerem os seus préstimos e solidariedade pelo "isolamento civilizacional".
Naquela tarde minha mãe tinha uma visita dessas, mesmo na altura do lanche. Ainda ouvi o diálogo: "D. Maria a senhora permite que o "pretito" lanche com o seu filho?" A minha mãe, serenamente, com aquele olhar que eu tanto admirava, e ás vezes temia, retorquiu: "Não vejo isso, vejo o Jorgito e o meu filho, que vão frequentar a mesma escola e a mesma classe, vizinhos, e que brincando juntos, lancham juntos..." Já não me recordo como é que a tal dita senhora se desenvencilhou da resposta, mas lá que foi duro, foi...
A minha vida foi assim pautada pelos ensinamentos dos meus pais, e hoje quando vejo alguns barulhentos defenderem o não ao racismo, penso para comigo, que melhor do que gritar é praticar. Amigos pratiquem, pratiquem...
Hoje, quando tenho de responder à minha neta escuteira e catequista, às vezes recorro a estas histórias da minha vida, para ilustrar o que pretendo dizer. Perguntava-me ela "... Jesus disse para amarmo-nos uns aos outros como Ele nos amou, como é que eu faço avô? Contei-lhe esta história porque o que se passou entre mim e o Jorgito, não foi senão amor ao próximo, sem barreiras de qualquer espécie...
O Jorgito foi muito anos mais tarde ministro de Moçambique, e para além disso era um pintor que eu muito admirava... Espero que a tal senhora o tenha reconhecido mais tarde... era bem feito!
O quadro que reproduzi não é do Jorgito, mas é da terra...

Ricky

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Blogue duma estética irrepreensível, comprometido com a beleza da vida, a merecer mais e constantes visitas no futuro. Gostei imenso desta página elegante. Bom fim-de-semana.

3:12 da tarde  
Blogger aDesenhar said...

henrique santos

poderás ter alguns problemas de configuração do ActiveX.
Uma das soluções passa por um scan ao teu pc para detectar erros no ActiveX.
Deixo aqui uma página com um "Free Scan" no qual poderás copiar o - ReqCure -
e atenuar as tuas "XateX" dores de cabeça.

http://www.pc-utility.com/activex-errors.aspx

podes utilizar esta aplicação para detectar outros erros no teu PC que provavelmente nem sabes que existem...
:-)

se mesmo assim não chegar...
deixo mais uma dica que é a que utilizo...
recorro a uma das melhores ajudas informáticas do país, que é no - www.clubeinformática.com -, onde deverás fazer o registo, depois basta fazer a pergunta via mail e em devido tempo recebes a ajuda pretendida, atravez de um ou mais utilizadores.

sempre ao teu dispor...

abraço

esquisso:este comentário é um copy/past do meu blog, para chegar aqui rápida a minha ajuda.

3:31 da tarde  
Blogger Clotilde S. said...

Ricky,

estou feliz por teres voltado. :)))
Bom week end ! Beijinhos

12:22 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querido Ricky

Que saudades eu já tinha de todos - os aromas - sabores - da tua escrita que eu adoro.

Como esta história que é um verdadeiro encanto:)

Agora não fujas:))

Beijinhos
BomFsemana

5:41 da tarde  
Blogger joaninha said...

O mesmo cheiro, o mesmo palpitar, o mesmo sentir... e uma saudade sem medida fica a bailar no peito... os amigos sem cor, os alunos sem raça, a amizade sem tamanho... só lá se aprende tudo isso. Gostei de te ver no meu Blog e voltarei ao teu muitas vezes, porque há um elo de união, embora não se veja, nos que vivemos em Moçambique.
Uma boa semana e um abraço grrrrraaaaaannnnnnnnnnde

1:09 da manhã  
Blogger LUIS MILHANO (Lumife) said...

Como nem sempre há possibilidades de visitar os amigos coloquei hoje um poema dedicado a todos os que considero como tal e a quem desejo tudo de bom.

Um abraço

12:08 da manhã  
Blogger Menina Marota said...

Finalmente estás de volta! Que bom!
Já tinha saudades das tuas crónicas...

Abraço e boa semana ;)

11:16 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home