De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

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Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

sexta-feira, novembro 18, 2005

Bilene, fascínio dum amor de praia...



Bilene, fascínio dum amor de praia...
Deitei-me cêdo. Não estava com muito sono, mas estava exausto. Tinha arrumado tudo, e preparado exaustivamente a mala dos artifícios da pesca. De madrugada, partia para o Bilene, com os meus amigos e as perspectivas eram grandes: bom isco, boas canas, bons anzóis, empates em quantidade, amostras, enfim tudo.
Mas o sono não vinha, e enquanto isso se não resolveu, fui recapitulando tudo o que na véspera havia acontecido. Aquela cara não me saia da memória. Estava a resolver um “luto” de amor, uma perdida que o tempo começava a curar. A nossa curta conversa tinha sido animadora. A empatia que sentíamos era evidente. Era a rampa de lançamento, para mais altos voos... Mas aquela ideia da pesca vinha mesmo no momento errado... E, se por causa da pesca perdesse aquela oportunidade? Mas, com tudo combinado, que fazer? O dilema moía-me a cabeça e ... do sono nem vestígios. Cansado acabei por adormecer às tantas, sem chegar a uma conclusão. De manhã decidiria. O relógio tocou às quatro da manhã, e meia hora depois estava com todos os apetrechos de viagem e pesca, dentro do jipe do Alfredo. Deixei que o destino resolvesse o que não tinha tido coragem para fazer... mas aquela cara não me saía da cabeça... ela era linda mesmo! Todos notaram que eu não estava nem ali, mas fui dizendo que o sono me transformava num robot. O Carlitos não enguliu, ele que tinha topado a cena de véspera. A viagem foi monótona, Manhiça, Palmeira, Xinavane, Incoluane, Macia, e só quando a lagoa do Bilene se avistou majestosa como sempre, naquele nascer do sol tão mágico é que alguma excitação se manifestou na malta. O Necas, cioso do seu palmarés piscatório vaticinava nova vitória com dois marrecos, três garoupas crescidas (+ de três quilos) cinco ou seis sargos, e pelo menos um de areia (tubarão...).
Nem o frio da noite no lado de lá, no oceano o incomodava, tínhamos víveres para os três dias, que segunda era feriado... Chegámos ao Bilene e fomos ao Ferroviário procurar o barco para o carregarmos para a travessia e.. desespêro absoluto, o motor do barco estava avariado e, nada feito. Aguardámos pelo mecânico, não se podia fazer mais nada. Enquanto isso, umas banhocas, e apreciar os veraniantes que chegavam de tudo o que era lado. E, aquela carita que me não largava a memória. Já todos reparavam que estava na lua... Só não sabiam a razão daquela evasão. Depois do primeiro banho, eram dez horas, o sol já aquecia, o mecânico ainda não tinha aparecido, tudo contribuia para o desconsolo, até que... oh fada do destino, ela apareceu-me ali defronte de mim em fato de banho, mais linda que nunca, e nem sequer olhei bem para os pais, eu fui logo ter com ela. Soube então que vinham passar aqueles dias no Bilene, e eu soube logo que a minha pesca estava condicionada. E assim foi, já não fui para o outro lado (mar aberto) e fiquei por favor, num quarto da casa dum amigo do meu Pai, no alto do Bilene, ao pé dos CTT. Aquela empatia estranha, porque muito forte, abriu-nos a oportunidade de galgarmos etapas. Passados minutos, estávamos convencidos que nos conhecíamos havia anos. Ela tinha uma amiga curiosa, porque era loura e ela sendo morena, faziam um contraste muito giro, e eu ali no meio das duas feito princípe ... com sorte! Não podia ser melhor, uma namorada, uma amiga para tapar a situação e... Bilene, querido Bilene, que fazes renascer das cinzas, um amor novo, mesmo depois do maior desgosto... Oh Colégio Barroso, que tão ditosas meninas acolhia, e eu ali tão perto no liceu. O príncipe com sorte, estava mesmo cheio de sorte, a Maria Emília e a Ivone passaram a ser, assim de repente, o centro das minhas atenções. Passámos a ter uma curiosidade enorme "pelo desenvolvimento" do Bilene, e nunca tomávamos banho na praia junto dos pais... Na primeira tarde, no parque Flôres, num momento mágico, que a amiga deixou, por necessidades fisiológicas repentinas, surgiu o nosso primeiro beijo, e foi fenomenal! Eu que já tinha prática, porque do namoro anterior, havia registado uma "longa experiência" de ... juro (!), pelo menos cinco beijos! Pois, era assim naqueles tempos, e eu era dos mais felizardos, e recordo que as surpresas foram enormes. Quando a noite caíu, junto às tendas do "camping" onde se encontravam, com mais três famílias, fui convidado a juntar-me ao grupo e jantar ali com eles. Uma senhora, que deduzi chamar-se Alzira, aproximou-se de mim, mas de uma forma denunciadora de alguma solidariedade. Fez-me perguntas e mais perguntas, sobre mim, sobre a família, os estudos, eu sei lá que mais... Mas fui aprovado, pelos vistos com distinção, pois tive logo convite para tomar as refeições todas com eles... só dormir é que não... Mas quem era aquela senhora benfazeja, e pelos vistos com tanta autoridade na família? Era uma tia, a D. Alzira, mulher de convicções, muito aberta, muito "pr'á frentex", para a altura, criticada em sussuro, que ela tinha argumentos para impor as suas ideias. Com aquela "cunha", eu era cada vez mais um príncipe com...sorte, consolidado! Foram dias de "wine and roses" como dizia a canção, que passava tantas vezes, quantas a tia Alzira queria, na voz do Eduardo Jaime, pois então! Foi um tempo de felicidade. A pesca? Nem me lembrava mais... Mas tudo o que é bom, também acaba, e eu vi chegar o fim daqueles dias. As despedidas foram sentidas, mas as promessas essas eram juras, juras de amor adolescente, mas vivo a começar a ser adulto. Desmancharam o acampamento e sairam depois do almoço. Eu fui para o ferroviário, com a minha bagagem, e imaginem com as minhas canas de pesca... Ao fim da tarde, os meus camaradas chegaram, radiantes com uma pescaria paupérrima, mas com aventuras de peixes incríveis, que se soltaram dos anzóis, mesmo ali á beira praia... A viagem de regresso, foi de penoso cansaço para eles e de maravilhosos sonhos de amor para mim... Também, quem manda ir à pesca ao Bilene, no mar, quando no lado de cá havia tanta sereia linda.

As variadíssimas transformações na minha vida, surgiam-me na mente em catadupa. Por nada atendia a conversa da malta. Eu estava "ocupado", a engendrar como haveria de fazer, para ir ao colégio Barroso, namorar com aquelas restrições todas. Das quatro às quatro e meia, na confusão da saída das externas, era a melhor hora para ir quase lá ao pé, saber dela, ou eventualmente encontrá-la. Namorar naquela época era complicado mesmo! Visto com olhos actuais, dava uma bela peça de humor... velho! Mas era assim, e como narrador de mim mesmo, devo à verdade, a própria verdade. Beijinhos? Não, nem vestígios...
Até que ao fim de dois dias apenas, quando nem afinadas estavam as manobras de aproximação, surge a notícia, assim de chofre: o pai tinha sido admitido no Monteiro & Giro, com um cargo de gestão importante e colocado em Mocuba! Ficaria ali, no Barroso até ao fim de Fevereiro, e seria transferida para Quelimane, para o colégio de NSConceição...
Fiquei, muito abalado, confesso, num ano tinham sido dois desgostos de amor colegial, sem que tivesse sequer tomado o gosto. Ai tia Alzira, tia Alzira, a nossa beneficente, lá arranjou uma saída e acompanhou-nos para uma despedida que ficou memorável: no Polana, ao som do I CINQUE DI ROMA. Aquelas melodias, aquele som, dois jovens, perdidos num ambiente de adultos, para adultos, de moralidade pintada em tela rota... Muitas juras fizémos... sem saber que nunca se cumpririam... aquela era mesmo a despedida. Ficava a vontade de escrever, de revelar sentimentos, genuinos, nobres, puros, que a nossa condição permitia que tivessem caracter de verdade, a única verdade que admitíamos... como era bom voltar a sentir essa dourada ingenuidade... E, foi assim que despertei para a escrita das emoções, para a poesia, porque nela encontrava a forma de lhe dizer o quanto era importante na minha vida. Até que um dia, todo este cenário se modificou, a minha menina apanhou uma tuberculose difícil e foi para a metrópole, Braga por sinal, tentar a cura com outros climas... Nem sequer soube da nova direcção... eu era apenas um peão ignorado naquela história, e nem a tia Alzira me valeu, porque nunca mais a vi.
Ficou uma certeza, a verdade do que senti, a beleza de tudo o que recordo, com aquele Bilene a dar o seu valioso contributo. Quarenta anos mais tarde, voltei a encontrá-la em Braga, funcionária dum banco, meramente por acaso, estava com a minha afilhada (a mais bonita do mundo) e quando me dirigi ao balcão, vi uma cara conhecida, que o meu coração assinalou! Ela sorriu, e disse-me com toda a simplicidade: "Olá Ricky, tens ido ao Bilene?" Era a nossa chave, isso mesmo, o Bilene, porque tinha sido importante mesmo. Soube depois que a tia Alzira tinha falecido, que era quase avó, mãe de dois filhos... E ficámos assim, a contemplarmo-nos durante uns minutos, deixando falar o silêncio... Depois, depois, regressámos à vida conscientes que o que tínhamos vivido, tinha mesmo valido a pena...
Ricky

23 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ricky, fizeste-me chorar...
Bjinho

3:32 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá Amigo Ricky!
Há que tempos não nos falamos!
Acabo de descobrir este teu cantinho. Ainda nem tempo tive para ler nada com atenção suficiente.Mas vou fazê-lo certamente. Agora é mesmo para te deixar um beijão dos grandões.
Netucha

5:43 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola meu afilhado ricky.
quando aqui páro dou uma vista de olhos naquilo que deixei atrasado e vejo que as tuas visitas vao de vento em popa.

que bom!

o bilene... conheço. estive dentro de agua 3 horas e apanhei uma insolaçao.

abraço da leonoreta

8:47 da tarde  
Blogger José Monteiro said...

Quantas memórias me trazes de volta Ricky!! A primeira vez que acampei, as aulas de "Optimist", o dia em que aprendi a nadar num riacho por detrás do posto do PSP, o primeiro beijo numa "bifa", a primeira bicada de carangueijo (mas vinguei-me, comi-o ao jantar!!). Tantas primeiras vezes me aconteceram no Bilene!!
Obrigado amigo!
Um abraço,
José Carlos.

11:27 da tarde  
Blogger José Monteiro said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

11:27 da tarde  
Blogger Menina Marota said...

Excelente este reviver de memórias! Gostei muito desta partilha.
Um abraço e bom fim de semana :)

2:34 da tarde  
Blogger Português desiludido said...

Ricky! Acho que lendo a tua descrição todos temos a sensação de lá estar....
bfs
Pedro

3:46 da tarde  
Blogger lena said...

consegues transmitir tão bem os sentimento que me imagino a vaguear em todos esses acontecimentos

belas recordações as tuas
obrigada por as partilhares

beijinhos


lena

4:04 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Rick, vê este site com excelentes fotos do Bilene e, parece ser de alguém que reside em Maputo.

http://casalbremmz.blogspot.com/2005/08/praia-de-bilene.html

Essa tua maneira de relatar factos são fabulosos.

5:34 da tarde  
Blogger Leonor C.. said...

Estou emocionada com a descrição desse amor tão lindo. As voltas que a vida dá... Que teria acontecido se não fose assim?- muitas vezes nos perguntamos. Há coisas que ficam gravadas na nossa mente e no nosso coração para nunca mais se apagarem. E todos nós temos a nossa história de amor...

9:50 da tarde  
Blogger aDesenhar said...

absorvente a tua história :)
parabéns Ricky

abraço

12:59 da manhã  
Blogger Mikas said...

Mais uma recordação que vale a pena... o tempo passa mas nunca esquecemos as pessoas, elas são sempre importantes para nós, umas por uma razão outras por outra.

4:24 da manhã  
Blogger Manel do Montado said...

Vou voltar para ler com outra "cabeça", agora não dá.
Sei que a história é linda e interessante, já li outros escritos teus para o poder afirmar.
Obrigado por passare spelo meu canto e deixares umas palavras à memória do João Roma Pereira, Comando esoldado português.
Um abraço Ricky, sincero e amigo.
Fica bem companheiro.

3:30 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

ler o q tu escreves só aumenta em mim a vontade de conhecer Moçambique e em particular a Ilha do Ibo.......
Beijo e bom fim de semana

11:53 da manhã  
Blogger LUIS MILHANO (Lumife) said...

Recordar é viver... Mesmo não conhecendo Bilene vivi esses momentos que tão bem retratas.

Uma boa semana.

Um abraço.

4:42 da tarde  
Blogger Isa Maria said...

uma partilha intensa e que faz chorar o coração

7:16 da tarde  
Blogger Isabel Filipe said...

Oi Ricky...

Que saudades dessa bela praia onde também passei bons momentos.

Boa noite e beijinhos.

8:18 da tarde  
Blogger Que Bem Cheira A Maresia said...

Olá :)

Vem brindar connosco, vens? ;)

Beijinhos

3:22 da manhã  
Blogger Astri* said...

Gostei imenso do que ai está escrito... Oh quem dera por ai andar e saber se o que sentes é isso mesmo. Oh se nao fosse esse teu texto não teria motivos para sorrir como estou a sorrir agora.. :D um obrigada do fundo do coração mesmo

beijo ****

10:28 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Ricky

Mais uma História linda - de encantar.

Com esse teu jeito - como quem nos pega pela mão: Venham daí... vamos passear!

Os
sentimentos
nas tuas palavras
fazem uma dança
no ar...

beijinhos

12:04 da manhã  
Blogger José Gomes da Silva said...

Nunca estive em África, como já disse num comentário a um destes posts magníficos, mas o que sobressai deste é a mesma sensação que se experimenta quando se vê um filme lindíssimo. E aqui sou suspeito, pois começarei logo a publicitar o "Cinema Paradiso", o filme que mais gostei de ver desde que nasci e tê-lo-ei visto 8, 10, 15 vezes? Não sei. Mas onde quero chegar é que, quando sentimos que se viveram momentos mágicos, mas com frases incompletas, dilemas por resolver, espaços interrompidos pela ditadura do tempo ou tempos encurtados pela ditadura da distância, sentimos sempre uma doce e ao mesmo tempo dolorosa recordação. Senti disso tudo um pouco, ao ler este texto.

E nunca estive em África

Um abraço

1:28 da manhã  
Blogger Cristina said...

Olá Ricky,
Que lindas recordações, adorei ler
:)
obrigada por compartilhares connosco
beijinhuu

4:16 da manhã  
Blogger Henrique Santos said...

Obrigada companheira(o)s de estrada, que aqui tentam corresponder, a um desejo de troca de experiências. Assim, obrigada a todos:
Girassol
... lágrimita? lembranças? aquele Bilene... se falasse... passei lá a lua de mel...
Netucha
Que bom "vêr-te", espero as tuas críticas...
Lianor
... aqui as praias não dão para isso, n'é?
Magude
Bom companheiro, obrigada...
Menina marota
... mais uma marotice que gostaste... ainda bem...rsss
PECAAS
Um abraço velho companheiro...
Palavras que escrevo
Ainda bem... "bigada" pelas palavras...
Anónimo (gostava de saber quem...)
São muito boas as fotos sim senhora...
C'est Moi Noquinhas
É mesmo, o mundo dá cada volta...
ROMERO
Muchas gracias, estou comovido.
ADESENHAR
Obrigada pelo incentivo... idem
MIKAS
... esquecer? não, isso é que é morrer...
MANEL
Companheiro bom e fiel, um abração e em breve comeremos um almoço dos tais... fica selada a promessa...
MAR
Só fazes bem, acredita... terra linda!
LUMIFE
Ainda bem... breve vou aí...
IMAR
Oba, foi bom...
ISABEL
Bela vitória, parabéns...
MAR REVOLTO/MAR AZUL
Belo brinde, estive lá...
ALMANAQUEABSORVELÁGRIMAS
... cosquice... eheheheh tal como na poesia, só escrevo o que sinto... mesmo!
BETTY
Obrigada por mais uma crítica criativa e ... um grande incentivo e responsabilidade... Obrigada, mesmo!
O FURÃO INDISCRETO
Zé, obrigada, porque julgo haver sinceridade, as tuas palavras vão empurrar-me para o projecto final. Chegou a altura para visitares África... Um abraço
NITA4EVER
É um prazer compartilhar...

Bjinhos a quem é desse sector e abraços aos restantes... rsss
Ricky

11:11 da manhã  

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