De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

Nome:
Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

sexta-feira, outubro 14, 2005

Histórias da minha vida II

Porque se mostraram interessados, meus caros amigos, aqui vos deixo, mais umas páginas do meu "livro", ainda referente ao centro de Moçambique. Este texto que extraí, mostra propositamente alguns aspectos da vida social no mato... Algures em áfrica...

Memórias da minha infância - Charre IV
A vida social no "mato".
Introdução
Só quem não conheceu a vida no "mato", estranhará o tipo de amizade, e solidariedade humana que se desenvolve, entre as pessoas que, por esta ou aquela actividade, tiveram, eu diria, a felicidade de têr tido essa experiência. A vida era difícil, os recursos por vezes escassos e muito distantes, mas a tal solidariedade matava tudo isso, na maior parte dos casos. Começava-se por lamentar a pouca sorte do destino, para depois se chorar na despedida. Só assim, pouco mais de cinquenta (50) anos depois, um jovenzito de oito para nove anos, se recorda com saudade do tempo escasso que lá viveu - dez meses! Moçambique, marcou os seus cidadãos, marcou aqueles que tiveram a felicidade de lá viver, desprovidos de ideias coloniais. Tiveram, eu diria o seu prémio! Como era bom sentir a pujança do ser humano! Nunca mais voltei a sentir, com aquela intensidade. Oh Moçambique, bem hajas...
As visitas...
Como era hábito, todos os vizinhos se visitavam, isso tornava a solidão menos agreste e o serviço menos castigador. Com temperaturas acima dos quarenta graus, por norma, durante muitos meses, a jornada era fortíssima. Por isso as noitadas, até às onze da noite, no máximo, eram frequentes. Os dias começavam cedo, mas jantava-se às sete horas! Lembra-me no Charre, as visitas aos Ivos da Silva, casa de recepção fidalga e prazenteira. As visitas aos Morgados de Tamantine, a caminho da Markka. Era uma alegria! Ao Gil, da alfândega, em nossa casa e, naquela aldeia e arredores, todos se juntavam em harmonia. E, depois havia os fins de semana, sobretudo os domingos...
O Clube Ferroviário de Mutarara (velha)
A importância do clube era determinante. Ali se jogava ténis, se jogava Bridge, King, Sueca... e bailava-se todas as tardes de domingo, com um conjunto maravilhoso, muito conhecido "GIRA DISCOS" com as músicas mais actuais e ... aquelas que não perdem idade, e ganham na intensidade do sentimento... Pois, eu era miudo e sabia que a festa ia até às dez da noite, e havia o regresso ao Charre. A viagem de volta, envolvia cuidados, pois para se não dar a volta por D.Ana e Baué, íamos pela serra cortando caminho, mas com mais um carro pelo menos, por causa dos leões. O nosso jeep Willis era de capota de lona, e se por acaso avariasse, ou furasse um pneu.... era um sarilho dos antigos... Normalmente era o Ivo da Silva (filho) que nos acompanhava, e por isso tudo bem... Em Mutarara (velha) o primo do meu Pai, Joaquim Brites, chefe da Revisão de Material dos CFM, tinha lá a sua casa no bairro do Ferroviário, que distava da Mutarara (nova) bairro civil, onde ficava a Administração do Concelho. Atenção, malta de Inhambane, o primo do meu pai foi depois transferido para lá, e a minha prima (filha) Fátima foi aquela piloto aviadora do Aeroclube que aterrou na estrada de Inharrime - Maxixe por falha de motor...
As minhas coordenadas...
Sempre que me recordo destas maravilhosas paragens, ( com a maravilhosa ajuda do meu Pai, que tem uma memória fabulosa - 92 anos bem vivos, graças a DEUS) não deixo de me situar, no Charre, naturalmente, no rio ZIU-ZIU mesmo perto de minha casa, no Baué, D. Ana, Mutararas, Dondo, Port Herald, Markka, Tamantine, nos chocolates que se compravam no comboio da TZR, em dia de são comboio, nas caçadas aos crocodilos no Zambeze, mas sobretudo das pescarias com os meus amiguinhos do Charre, onde vivi belíssimos tempos.
Conclusão
São momentos que não esquecerei. De facto, ali vivi e compreendi a cultura de um povo, as suas diferentes formas de se relacionarem, mas sempre admirando o seu caracter, a sua forma pacífica de aceitarem a nossa presença, e o orgulho de presenciar que a grande, grande maioria, dos portugueses se portavam como seres humanos maravilhosos... Havia excepções que não quero sequer recordar, e nunca o farei... Se fosse possível agradecer àquele povo fá-lo-ia agora com muita emoção...
Obrigada pela atenção.
Ricky

21 Comments:

Blogger Julio Thomé said...

Primeiramente, obrigado pela sua visita a meu blog, fiquei feliz. E como é bom relembrar tempos vividos. Gostei muito de ler suas lebranças e do seu blog... Um grande abraço e até mais...

9:42 da tarde  
Blogger Feeling said...

Nada é mais reconfortante do que relambrar as boas vivencias da vida já passadas...

Adorei este cantinho, certamente visitarei mais vezes, parabens!

Beijos***

2:52 da tarde  
Blogger Astri* said...

Agradecer pela atenção? Eu é que agradeço por haver alguem que escreva assim tão bem e nos deixe partilhar as suas memórias :D

beijinho no coração *****

7:14 da tarde  
Blogger Português desiludido said...

Grande Ricky. Chegás-te, viste e venceste ! As tuas histórias encantam!Mas tens um grande "inspirador" que é o teu Pai!
1 Abr
Pedro

9:28 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ricky
Como me faz bem te ler!
beijinhos menino

3:30 da manhã  
Blogger Henrique Santos said...

Meus queridos amigos,
Julio,
A visita ao seu blog é para continuar, gostei e voltarei.
Obrigada pela sua presença aqui e por se ter manifestado.

Menina do quinze,
Obrigada miuda linda... eu continuo a ler as tuas traquinices, sempre com muito interesse... bjinhos

Feeling,
Sei por te ter visitado que essa do "feeling" está apropriado... Obrigada pela visita... retribuo os bjinhos

Almanaqueabsorvelágrimas
Sem lágrimas, senão de alegria... o teu cantinho sensível merece recomendação... obrigada, bjinhos

Pecas,
Claro que consulto aquela enciclopédia de 92 anos... Obrigada pela vista. Vou aí abaixo breve, e vou te ver...

Tareca,
Como é bom te vêr aqui. A tua opinião sabes bem que me é muito querida. Bjinhos

9:27 da manhã  
Blogger vero said...

Ricky, obrigada por partilhares estas lindas memórias...
Gosto muito do que escreves!
Beijinhos***
:)

5:16 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Ricky

Quem foi presenteado com a natureza de África como por exemplo: um pôr do sol - aquele tons - céu - sons, jamais esquecerá.

As pessoas confraternizam, com uma envolvência humana - quente - sentida. Hábitos de serões com os amigos e visitas assíduas. Que ficarão para sempre na memória de quem conheceu e conviveu com este povo.

É tudo isso que tu contas na tua história - Magnificamente.

Um beijo

6:53 da tarde  
Blogger CB said...

Ricky, dois abraços grandes. Um, pelo blog e outro pela perda que tiveste no presente. CB

11:02 da tarde  
Blogger Manel do Montado said...

Qual obrigado qual quê por lermos o que escreve. Quando o leio até o cheiro das acácias e o barulho dos bichos-do-mato me voltam á memória. Até o cheiro do escape do Jeep, sim porque eu ia cá atrás com os mainatos, o Julião e o Vicente. Costumava ir à caça com o meu querido e falecido pai e com o senhor Cândido. Que saudades.
Também recordo as viagens da Beira a Lourenço Marques e para o Xai-Xai.
Aguado o próximo episódio.
Força Ricky

12:03 da tarde  
Blogger Leonor said...

ricky
perdoa a minha ausencia. mas tu sabes que noutros tempos eu era assidua...

que bom chegar o teu sitio e ver que vais de vento em popa mesmo de costas para o rio e que bom e ver-te por ai noutros sitios amigos.

abraço da leonor

9:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Caro Ricky,
Gostei muito de tornar a viver e recordar aquelas terras Moçambicanas.
Vivi, ainda miúdo, em Mutarara Velha por 4 anos, pois meu pai, maquinista, foi lá colocado em serviço. A escola era em Mutarara Nova e íamos de zorra todos os dias. Zorra puxada á mão como bem sabes!
A minha casa era mesmo ao lado do clube ferroviário e recordo tudo o contaste para além das sessões do cinema ambulante que nos trazia o padre do Baué.
Temperaturas na ordem dos 45 graus era normal! Geleira coberta com manta húmida também fazia jeito para refrescar o interior! Enfim, tempos que guardo com boa recordação.
Um abraço.
Tony

12:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Ola Ricky,

Mais uma vez, parabens pelas tuas memorias, sempre interessantes e agradaveis de ler e reler.

Sou o Fernando Sampaio. Estaras recordado que, a proposito das tuas memorias sobre o Charre, te mandei algumas notas com as recordações do meu Pai. A proposito, chegaste a ter a oportunidade de as mostrar ao teu Pai e de obter dele algum comentario ?

Ja agora, reparei no interessante comentario do Tony, aqui em cima, que tambem viveu na Mutarara Velha. Gostava de poder entrar em contacto com ele. Para cruzarmos também as nossas informações e recordações. Mais dos nossos Pais do que nossas, na verdade. Infelizmente ele aparece como "anonimo" e sem contacto. Para o caso de ele voltar aqui ao teu Blog, deixo o meu contacto e-mail : fernando.sampaio@noos.fr
Posso dizer-lhe, em resumo, que
sou filho do Rui Sampaio, que por sua vez viveu e trabalhou na Mutarara Velha de 1952 a 1955, nos Caminhos de Ferro, como "encarregado de tracção e oficinas" (substituiu um tal Reis Martins). Vivemos, o meu Pai, a minha Mãe (professora primaria em D.Ana), e eu proprio (ainda bébé) numa casa mesmo ao lado ... do Clube Ferroviario ! Como ele e a familia ! Mas não sei se foi na mesma altura, antes ou depois ! Talvez o Pai dele se lembre do meu e vice versa. Mas sem saber o apelido e a data da estadia deles é dificil verificar. Se ele me puder contactar, poderemos trocar algumas impressões !

Um abraço.
Fernando

7:09 da tarde  
Blogger Luisa Hingá said...

Ricky tardavas a criar uma página só tua, toda tua, mas vale a pena ler-te...
Beijinhos

2:14 da manhã  
Blogger Henrique Santos said...

Olá a todos,
Depois duma situação díficil, e duma arreliadora alergia, voltei, espero ao normal... está quase...
Vero
Estive na tua terra. Nasci em Moçambique mas as minhas origens são da tua... Soutocico, conhrces? Obrigada pelas tuas palavras...
Betty
... fico sem palavras... obrigada
Marolinda
Obrigada pela solidariedade. Bem haja
Manuel,
Obrigada pela força... não esquecerei...
Lianor
Estás sempre presente, és a madrinha, não te esqueças...
Tony
Vais ter um encontro que este blog proporciona ... bonito. Obrigada pelas palavras...
Fernando
Já encontraste o contacto? Oxalá.
Obrigada pelo incentivo...
Maryluh
Depois dum voo muito atribulado, aterrei. Espero eu!
A tua presença é para mim importante... Obrigada.
De last but not the least, oh minina dos quinze, obrigad pela honra de figurar no CHUINGA.
Bjinhos sobrinha virtual e irreverentíssima...

5:50 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Belas histórias e poemas que acompanho sempre, mostrando uma enorme sensibilidade e um grande coração...Este blog veio na hora certa, trazendo recordações da terra longínqua e tão amada!Parabéns!
Xi-coração

1:38 da tarde  
Blogger Henrique Santos said...

Oh Girassol, Girassol,
tu que rodas procurando o sol,
mascaras o verde prado,
e destróis o stress atribulado...

Não é para este o Girassol que escrevo, mas para ti, o meu agradecimento pelas palavras de incentivo, que eu procurarei corresponder...
Obrigada, Ricky

2:18 da tarde  
Blogger Julio Thomé said...

Olá Henrique! É sempre uma honra te-lo em meu cantinho e te visitar... Volte sempre!

2:12 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Por que nao:)

1:15 da tarde  
Anonymous domingos ferrao said...

Muito obrigado por falarem de mutarara velha.eu tambem la vivi entre 1985 a 1986, entretanto o meu pai era chefe da estacao ferroviaria local.nao guardo boas memorias porqui a nossa saida foi compulsiva devido a guerra civil que se fazia sentir na altura ate paramos no malawi como refugiados.de la para ca nunca voltei a essa terra banhada pelo indico

1:56 da tarde  
Anonymous GERASSI PITA said...

o comentario bastante rica eu sou de mutarara gostei mas que bom

2:31 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home