De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

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Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

segunda-feira, outubro 24, 2005

Memórias da minha adolescência - Pensar em abstracto...

Sem comentários, no folhear do livro, este pequeno episódio, duma tarde de estudo, num café conhecido da então Lourenço Marques. Uma pequena nota para a figura, incontornável do Maestro Artur Fonseca, autor da Casa portuguesa, mas também do Moçambique, Inhambane, Lourenço Marques, O meu chapéu... etc... Espero que gostem desta mistura.

Memórias da minha adolescência - Pensar em abstracto...

Fui para o café do Rádio Clube. Sentei-me na mesa do costume, estava determinado a estudar. O teste de Filosofia, tinha de ser ganho, para usar um termo do Catarino. Não que as matérias em questão, fossem complicadas, mas ele havia jurado, que nos colocaria a raciocinar em abstracto. Como? Essa era a questão. Percorria os títulos dos capítulos da matéria dada, e tentava descortinar, por onde iria ele tirar o coelho da cartola. Sem saber como, dei por mim a imaginar-te, a milhares de quilómetros, numa Lisboa desconhecida, numa faculdade nova, com novos conhecimentos. Imaginei-te cortejada, vi o teu olhar... e, então escrevi:
Apareces no meu imaginário,
com o teu/meu sorriso,
absorvo-lhe a mensagem,
e quedo-me na realidade!
Estás longe,
aquele sorriso me foge,
já não é meu,
e o sonho termina abrupto!
Fico triste. Releio o que escrevi, e tento concentrar-me. A despedida, tinha sido o prenúncio, duma vida com destinos opostos. Estava no dealbar dum luto tardio e lento, dum amor que se firmou bem forte e, não conseguia mesmo concentrar-me. Escrevi outra vez:
Na despedida te perdi,
mas no meu coração não,
e, dele não sairás, pressinto...
Vou ter de viver assim?
Na tua ausência física,
e na tua presença imaginada?
Descansei um pouco, interrompido pelo criado de mesa, que saía de turno, e queria o dinheiro do café. Além, na mesa do canto Artur Fonseca, de monóculo a seu geito, acenava-me dando conta que havia chegado e eu não tinha dado por ele. Pedi-lhe desculpas, era uma pessoa espantosa, de respeitabilidade e educação. Voltei à Filosofia... ai Catarino, Catarino, que nunca mais vais para Nampula, para onde se dizia que iria no final do ano lectivo. Pensar em abstracto... como? O que quereria ele dizer? Voltei outra vez a imaginá-la, na Ponta do Ouro, quando aprendi que as mulheres afinal tinham período... e dei comigo a sorrir... Lembrei-me do Idílio em Setembro (Come September) com a canção "Multiplication", que tanto brado deu, numa comédia que proporcionou uma matinée para relembrar, com os carinhos habituais, da mão na mão, como cantava a Silvie Vartan e... escrevi:
Sinto a tua falta,
cada objecto me recorda,
a tua silhueta,
a tua face rosada,
o enquadramento do teu olhar...
Começa a escurecer, e afinal que estudei eu? Tento vêr, o que se pode salvar, daquela tarde de estudos, duma filosofia "catarinizada", agora sob o espectro do pensamento, em abstracto? Não demorou muito o regresso à imagem daquela mulher linda, que tinha revolucionado a minha vida. E, o pior é que não queria evitá-lo! E, mais uma vez escrevi:
Naquela praia,
em dia de chuva e sol,
passeámos à beira mar,
recolhemo-nos naquela rocha,
os nossos corpos se enlearam,
fomos um só, naquele prazer,
do amor que esbanjávamos!
Indiferentes à chuva,
bebemos as gotas,
do elixir desse amor!
Decididamente iria chegar tarde ao jantar, eram já oito horas, desde as duas da tarde a tentar estudar filosofia e, o tal "pensar em abstracto" e... nada! Só ela, aquela miuda pequerrucha, de pouco mais de metro e meio, de nariz arrebitado, física e mentalmente, que me tomava conta da mente, sem margem para desvios. Por último, uma nova imagem de despedida, e, voltei a escrever:
Apareces-me de sorriso franco,
sabes que me tens por inteiro,
vêr-te-ei sempre por aqui,
afinal esta casa não é tua?
Terei outros amores,
mas sabes o que foste,
neste coração saudoso,
por isso me sorris,
por isso te instalaste,
na minha vivência do passado,
nas recordações,
do que mereceu a pena viver!
Regressei a casa preocupado. Não tinha estudado nada. De repente, dei comigo a pensar, não teria eu estado a ensaiar, modos de "pensar" nunca dantes "navegados"....
Obs: ... tive a melhor nota da turma 12...

Ricky Mai.2005

7 Comments:

Blogger Luisa Hingá said...

Só podias ter filosando dessa maneira...
Beijinhos

11:43 da manhã  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Ricky

Belíssimo texto, na procura do abstracto rendilhaste a filosofia magistralmente, foi um prazer sorver cada palavra

Um beijo

5:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Olá, Henrique!
Gostei da forma como exteriorizou o seu pensamento!
" Sou alguém que é feliz". Não poderia arranjar definição mais bela!
Obrigado pela visita, e volte mais vezes!
Um grande abraço,

7:37 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Reli com emoção este texto que me levou lá, ao café do Rádio Clube ! Íamos comer os especiais cachorros, que ainda hoje me fazem crescer água na boca...E chocolate quente em caneca com asa de metal...
Sempre a poesia, sempre o Amor!

10:50 da tarde  
Blogger Henrique Santos said...

Olá a todos, obrigada pela visita.
ROD
Obrigada pela sugestão - Thank you
Maryluh
A filosofar, nada sobre o abstracto... obrigada pela autorização para rolar e descolar...bjinho
Betty
Obrigada pelas tuas palavras muito animadoras para mim. Já viste a surpresa que te fiz? falaste em sons de áfrica, e ofereci-te um quadro de... palavras...
Bjinho
A.J.FARIA
Em linguagem moçambicana o meu agradecimento - Kanimambo!
Um abraço
GIRASSOL
Obrigada, oh festa da pradaria...
IO
...ou quinze...ou irreverentíssima e incansável combatente justiceira... obrigada miuda

4:25 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Filosofia, brrr... Só de pensar encolho-me!
Se eu a estudar e a decorar todas as coisas nem um nove conseguia quanto mais a pensar naquele por quem o meu coração bate....
Parabens pela nota!!

6:34 da tarde  
Blogger Leonor C.. said...

Como é bom recordar os sonhos da nossa juventude...

5:39 da tarde  

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