De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

Nome:
Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

sexta-feira, outubro 28, 2005

O cinema - conteudo, estética, sala e companhia.... e, pipocas...

Ficou claro que vou falar de cinema, e em tudo o que o envolve... até, das pipocas. Naqueles tempos, na então Lourenço Marques o cinema tinha uma importância forte. Não tínhamos TV, era o divertimento de eleição. O teatro, aparecia, muito pela teimosia e carolice duns quantos, que teimavam em fazê-lo. A censura, arrumava com os autores que mais queríamos (BBrecht? pois... miragem... quem era esse?). Mas voltemos à razão primeira, para nós adolescentes era uma das formas de namorar, com alguma liberdade (?), assim a modos que... mão na mão... como cantava a Silvie Vartan... Como sair à noite era um previlégio, uma sorte grande... nenhuma moça, que se prezasse, saía com o namorado à noite! Então eram as matinées, as eleitas, para o beijinho envergonhado e super rápido, e o entrelaçar de mãos que... fazia tremer corações. De tal ordem que ainda hoje isso me emociona! No meu livro (?) tenho algumas passagens, e escolhi uma para exemplo, e, depois, em homenagem ao cinema, cinema, uma alusão ao clássico dos "western" Rio Bravo, com um poemita muito à minha maneira. Feita a apresentação vamos a isso, esperando que gostem:


Idilio em Setembro

O dia nascera solarento, era sábado e isso aumentava o grau de "felicidade" dum estudante que se preze... No liceu tinha "apenas" Filosofia com o Catarino às onze e... antes as actividades da MP, que no caso dessa altura eram a "Rádio Mocidade" a emitir experimentalmente da Polana..... Não era em FM mas "a gente gramava à brava quando púnhamos no ar uns minutitos seguidos..." Se fosse hoje dir-se-ia "era fixe meu..." Mas este sábado era especial, a João fazia anos, tínhamos almoço volante em sua casa na Sommerchield, e depois íamos para a matinée, e para o Scala, mas sem "cowboyada" do costume, já que iríamos vêr uma comédia: Ídilio em Setembro ( Come Sptember) com o Rock Hudson, Gina Lolobrígida, Sandra Dee e o Bobbie Darin, o tal que cantava a escandalosa(?) (pr'á época, eheheheh) canção "Multiplication" e o Come September, de uma melodia espantosa e um solo de guitarra que me ficou sempre no ouvido... E assim foi, tudo se passava às mil maravilhas, o primeiro beijo tinha ocorrido, estava nas núvens, a aula do Catarino foi um primor, e como ele dizia "... vejam se se conseguem sentar, se sim, veremos em que fase de evolução se encontram, primatas..." 'távamos todos direccionados para o "encontro de amores" e a ansiedade tudo dominava. Depois das aulas apanhámos o dois, ali ao pé do hotel Cardoso e fomos até ao hotel Polana, e depois a pé até à casa da João. Grupo barulhento a manifestar a alegria da vida , qual "bando de pardais à solta" que um dos meus poetas preferidos, imortalizou... E, eu ali ao lado dela sem pais a espreitar, feito namorado a sério, de mãozinhas entrelaçadas, sentindo aquele calor gostoso do corpo de quem se ama, sentir aquele cheiro novo tão esplendoroso, qual perfume premiado em feira de Paris... O almoço foi uma pequena maravilha, os nossos petiscos queridos estavam lá todos , nenhum faltou! Era caril, sarapatel, chacuti, camarão assim camarão assado, carne assim, carne assada, não faltando a galinha à cafreal... os Vimtos, as coca-colas, as laranjadas canada dry, as spur colas, as 2M, as Laurentinas, bem controladinhas, por sinal....Também houve desassossego e tudo, que aquela malta era danadinha para isso, os nomes omito, claro, para não ferir susceptilidades, mas formávamos uma equipa de truz.
Depois deste lauto almoço fomos apanhar o autocarro para a baixa e para o Scala. Quando saimos de casa da João começou a pingar... grosso. O céu a ficar todo negro, vinha aí tempestade tropical... corremos para o autocarro e... lá seguimos já com chuva torrencial.
Chegámos à baixa e estava tudo alagado de água até aos joelhos.
Metade dos degraus da entrada do Scala estava debaixo de água. Que fazer? Fácil, levar as meninas ao colo para não se molharem... toca a tirar os sapatos e as meias, arregaçar as calças e pegar nas meninas... Meu Deus que coisa tão boa pegar ao colo aquela que "a gente namorava", sempre controlada e tão distante... Óh prémio saboroso, que maravilha... Foi o colo mais saboroso que alguma vez dei... Mas que foi um escandalozito, para quem via, foi. Naquela altura, meninos, pegar numa moça ao colo agarrada a nós,mesmo com inundação era.... malicioso. O filme foi a condizer e lá dentro, na escuridão da sala, foi uma tarde de carícias como nunca havíamos tido... ainda me arrepia, como tão pouco, pode fazer tanta felicidade... Depois o temporal fez o resto, os papás vieram buscar as meninas e a aventura terminou.
Mas que foi memorável foi... Gente já lá vão 44 anos, e parece que foi ontem...
Na inocência do acontecimento, a grandiosidade da lembrança.....

RIO BRAVO, bravo!
E, tanto me tenho lembrado das matinées, ali para os lados do Manuel Rodrigues, Gil Vicente, Scala, Variéta (quem se lembra?)... Dependia dos filmes... Pois, algures na Europa, no novo milénio, numa noite de insónias, mesmo com alguma febre, saiu-me na rifa da programação da tv um filme histórico, em vários sentidos: "RIO BRAVO". Um Jonh Waine à maneira, uma Shelley ainda curvilínea, um Dean Martin alcoólico-dependente bem esgalhado, um Ricky Nelson, com a sua voz quente, em contraponto com o Dean, e quase tão bonito como eu era (acreditem...) ( se eu não me gabar quem o fará?), enfim todos os ingredientes para uma direcção do MESTRE, num clássico que permanece na memória de todos. Também o filme me fez recordar a nossa terra, aquelas tardes de "namorico-cinematográfico", aquele pegar na mão que fazia estremecer o coração...
O quebrar duma angústia de semana, enfim o abrir e fechar dum ciclo sempre renovado... Parafraseando a letra da cantiga do filme, e numa adapatação totalmente livre, a minha memória disse-me:

Rejubilava na tua presença,
experimentava o teu calôr,
a tua mão na minha,
entrelaçavam-se,
com sofreguidão e doçura.
Os nossos corações
esses cavalos de corrida,
batiam céleres,
assinalando cada fase,
daquele maravilhoso encontro.
E, nós, de pensamentos
em ebulição contínua,
corriamos um para o outro,
como um rio para o mar,
como as águas revoltas,
do rio Bravo do meu coração!




14 Comments:

Blogger Leonor C.. said...

A felicidade é feita de pequenas coisas.

5:41 da tarde  
Blogger Diolindinha said...

Ora até que enfim que encontro alguém que diz que é feliz! Gosto de pessoas de pensamento positivo e talvez consiga aprender algo contigo. Vem até minha caa tomar café e traz amigos para uma amena conversa. Fico à espera...

5:47 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Ricky

É uma delicia ler-te... as tuas palavras me transportam para as tuas "viagens" de vivência de uma forma maravilhosa.

A tua narrativa, sensibilidade de escrita... ler-te - é um acto de prazer.

Beijinhos

10:04 da tarde  
Blogger Henrique Santos said...

Que maravilhosa companhia, mininas, já vos visitei para dar conta duma reciprocidade cultural, amiga e, sobretudo solidária.
Obrigada, Ricky

10:23 da manhã  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Ricky

"A Guardiã dos Sonhos" é assim uma espécie de encantamento... ouve-se o murmurejar das águas do rio... no rendilhar das vozes daquelas mulheres contando as suas próprias histórias.

Um livro que me encantou!

Beijinhos

4:54 da tarde  
Blogger Português desiludido said...

Grande Ricky! Excelente! És um verdadeiro escritor! Gosto de leres o que escreves!
1 Abr
Pedro

7:15 da tarde  
Blogger mfc said...

Como me lembro das matinées de cinema... o melhor sítio, na altura, para namorar!
Como tudo mudou!

10:57 da tarde  
Blogger Manel do Montado said...

Ena pá, o Scala e os Criadores de Gado por detrás. O frango à cafreal que segundo a Isabel, os filhos continuaram o Piri-piri ali na Trafaria.
Ena as recordações que me trazes...tô maning velho pá. A tua recordação dos bancos de liceu é excelente, ler-te foi recordar-me.
saiem duas laurentinas ou uma Mac mahons aqui para esta mesa.
Abraço e venham mais textos.

10:58 da tarde  
Blogger aDesenhar said...

agradável este regresso ao cinema, pela tua mão/escrita.
no teu caso em Moçambique, no meu em Angola, onde passei 18 meses inesquecíveis.Luanda e os seus cinemas ao ar livre, com intervalos de 20 a 30 minutos... oh que saudades :)

abraço henrique santos

esquisso:o teu email não é visível, gostaria de te fazer algumas perguntas sobre Moçambique. :)

1:05 da manhã  
Blogger Julio Thomé said...

Muito bom texto. Mostra as coisas boas da vida, simples e marcantes. Gostei.
Vou colocar seu blog entre meus favoritos, algum problema?

2:27 da tarde  
Blogger Henrique Santos said...

Quem tem amizades assim, só pode ser feliz...
Pato Marreco
Grato pelas palavras, áfrica é de facto fascinante...
Cherry
Ainda bem, ainda bem... sê benvinda
Betty
... e que me vai encantar também, estou certo...
io
... o prosador agradece à minina irreverente e linda... à sobrinha virtual... pois...
Pecaas
A tua visita e sobretudo o teu comentário são para mim importantes. Obrigada,
mfc
Tudo mudou mesmo... mas a saudade daquele encantamento ficou...
Manuel
... como será bom reviver... velhos? são os trapos, apenas e recordar faz bem, são recordações que nos fazem reviver coisas tão boas... continuarei...
Carol
Espero que completes a visita e que gostes...
Adesenhar
Também nos arredores de LM havia um "drive-in" que muito frequentava, com os miudos em pijama... no carro... o meu email é: ricky444@gmail.com
Julio Karlos
Será para mim uma honra.
Obrigada pelo incentivo, espero poder corresponder...

11:38 da manhã  
Blogger Art&Tal said...

obrigado pela visita
bom, em arte nem sempre o que parece é
mas a tua perspectiva tambem é importante

abraços

1:32 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola ricky.
perdoa as minhas ausencias
a estrada consome-me o corpo e a alma.

mas vejo que vais lançado neste mundo da blogsfera...
e prontos...

o teu texto ja sabes tem os cheiros e as cores africanas que trazes na memoria.

abraço da leonoreta

7:15 da tarde  
Blogger Henrique Santos said...

art&tal
Foi uma opinião sincera, pois sou muito terra a terra quando gosto, gosto, quando... não. E vou continuar a visitar, posso? Eu sei que posso... Obrigada.
Lianor
As tuas visitas podem ser demoradas mas são sempre bem vindas. Previlégios de madrinhas, n'é?
Bjinho Ricky

12:02 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home