De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

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Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Conto de Natal africano...

Nota Prévia
* Este conto é ficção, embora com a recordação de gentes e locais, reais e bem verdadeiros na minha memória. O tema da história baseia-se num conto tradicional Irlandês, sem contudo ter pontos comuns senão, a finalidade, mostrar que Jesus está presente, em todos os momentos, através daqueles com quem nos relacionamos, nos nossos actos mais insuspeitos... Utilizo alguns chavões de linguagem local, espero que em nada perturbe a vossa leitura. Vou evitá-los, corrigindo agora ao relero texto. Obrigada.

Conto de Natal
Algures, no Calanga - Manhiça
A CEIA ESPECIAL
I - A véspera
O Macitela estava entusiasmado. Tinha ido à Missão falar com o Padre Teixeira e ele lhe havia explicado que tudo o que em Fé pedíssemos a DEUS, isso se realizaria. Então, concebeu o seu plano secreto. Estava só naquela época de cheias do Incomáti, e os Pais ficaram na Manhiça. Teria de passar a ceia de Natal, só, ali no Calanga. Iria à missa do galo, que o Padre Teixeira não perdoava aos faltosos, mas depois iria fazer a ceia, pois tinha um convidado especial - Jesus! Convicto da sua presença, escolheu o melhor frango que tinha e... zás! Depois de depenado, arranjou-o e preparou com todo o cuidado, os ingredientes para o temperar. A mafurra (óleo de amendoim) o piri-piri, o sal, e o olhinho de abóbora tenra, pisada no pilão. Escolheu as melhores penas do frango, para depois o pintar com os ingredientes misturados no óleo, e começou a preparar a farinha de milho. Pelo sim e pelo não, voltou a peneirá-la com todo o cuidado e ... houve até uma parte que voltou ao pilão, para ficar ainda mais fina. O amigo Matsinhe passou por lá, viu aqueles aparatos todos e disse para os seus botões "... este Antoninho Macitela, tem visita de tombazana nova, sim senhor..." E procurou tirar nabos da púcara, mas o nosso Macitela, nem abriu a boca, o que acentuou a desconfiança, havia mesmo tombazana na estória.

II - Os últimos preparos...
Acordou no dia seguinte, angustiado. Chegara o dia, agora é que iria conhecê-LO! Uma certeza tinha, a sua Fé lhe segredava que ELE iria estar ali a cear na sua modesta palhota, para comer o melhor frango à cafreal do Calanga, e até mesmo da Manhiça! Faltava a fruta e o vinho, Foi à cantina do senhor Castanheira e comprou aquela garrafa de vinho já velha que ele dizia ser "... uma pomada para deuses..." e que lhe custou muitas quinhentas.... Passou pela Tia Caliana, já mamana com uma curvatura digna de realce, havia carregado com sete filhos! Passou por lá só para lhe dizer, que passaria a noite de Natal na palhota, sòzinho. Depois da missa, iria directamente para casa. A Tia achou estranho, mas com a ausência da irmã, por causa das cheias, aquiesceu. O nosso amigo Macitela, aproveitou e "tirou" das mangueiras da Tia, quatro mangas sumarentas, as melhores da época! Tudo corria bem. Foi dar uma espreitadela à lenha, não fosse o diabo tecê-las.Não cabia em si de contente, já só faltavam horas....

III - Finalmente a Ceia...
Quando o Padre Teixeira acabou a missa, o nosso amigo, retirou-se ràpidamente e estratègicamente, fugindo às conversetas, ele que tanto gostava disso, para não perder tempo, pois o seu convidado não poderia esperar ... Assim que chegou, espevitou o lume, preparou o espeto, colocou o frango, pintou-o com o óleo, usando as penas, e colocou-o a assar. Pôs a farinha no lume, e deliciou-se com o cheiro a milho fresco e com a côr digna de reis... O frango, pincelado como a mãe recomendava, várias vezes com o óleo, sal, piri-piri e o olhinho de abóbora, estava a ficar dourado, o melhor frango do mundo!! Estava finalmente tudo pronto. Sentou-se na esteira e aguardou a chegada do convidado de honra. Passados minutos, estremeceu, pois tocaram à porta. É agora o grande momento. Abriu a porta e... desilusão, era um fugitivo das cheias, que havia perdido tudo, estava cheio de fome e... como tinha visto luz acesa, veio pedir ajuda. Macitela, o bom do Macitela, olhou para o frango e pensou "... será que Jesus reparará na falta de uma perna? virava o frango para esse lado e sempre disfarçaria..." Assim fez, deu ao pedinte uma perna do frango, uma manga, uma porção da farinha e... um copo de vinho.O inesperado visitante foi embora, voltou a sentar-se e aguardou...Truz, truz, batem novamente à porta. Agora é que é, o coração acelerava.... Desilusão, era um outro viajante cheio de fome, pois as cheias tinham sido uma calamidade... Voltou a fazer contas à vida, tirou uma asa e um bocado de peito, uma manga, uma porção de farinha e um copito de vinho...Meus caros a estória repetiu-se mais uma vez.... ele estava desesperado, já só tinha uma asa e um pouco de peito, uma porção de farinha, um copito de vinho e ... uma manga. Quando Jesus chegar dou-lhe o que resta, também já havia perdido a fome, mas não podia dizer que não àqueles desgraçados...De repente a porta se abre e uma figura resplandecente de luz, vestido de branco, assume... e ... o bom do Macitela, gaguejando e envergonhado, dizia: "Jesus, perdoa-me, como demoraste tive de repartir com uns viajantes esfomeados..." Jesus sorriu, e disse-lhe: " Macitela, o teu frango estava divinal, a farinha estava optima, o vinho excepcional e as mangas uma delícia ".
Como sabes? perguntou-lhe admirado. " Oh meu filho, sempre que alguém alimenta um necessitado, é a MIM que o faz, EU estive aqui com eles e a Ceia foi maravilhosa e tu demonstraste que ME amas..."
..........................................................
O Macitela acordou, tinha lágrimas nos olhos, e ainda não sabia se tinha sido sonho ou realidade. Mas que era o sonho mais lindo que havia tido, era! Foi a correr contar ao Padre Teixeira, e não é que o velho padre, derramou umas lagrimitas....
PS: A minha homenagem às gentes do Calanga (linda praia) e da Manhiça, ao velho padre Teixeira, que me viram crescer...
Natal - 2005/ Ricky

24 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olá, Heirique!
Mias uma vez, conseguiste através desta linda história, passar uma mensagem tão linda e repleta de valores tão necessários nos dias de hoje.
A solidariedade para com aqueles que mais precisam, faz parte daquela passagem evangélica" Vinde Benditos de Meu Pai...porque estava com fome e deste-me de comer..."
Henrique, não te conheço pessoalmente, mas sei que por trás destas palavras que escreves, está um homem muito nobre!
Um grande abraço, e votos de um Feliz Natal, extensivo a toda a família!

10:59 da tarde  
Blogger Astri* said...

O Natal deixa-me triste. Completamente mal. Nunca me sinto tão triste e tão vazia como no Natal. Disfarço arranjando as ofertas para os outros, gosto de pelo menos uma surpresa, nem que seja eu mesma a fazer-me a mim (LOL) mas na realidade isso não compensa pela minha falta de jeito para disfarçar a tristeza. Por mais que não queira, não consigo fazer pararem as lágrimas que teimam cair. Na realidade, sinto-me triste por me sentir triste e por ver que estou demasiadamente triste e por reparar que nunca deixei de ser triste. Talvez seja isso ou não. Talvez seja por isso que não consiga ler este conto, talvez por ter tanto encanto e não conseguir encantar-me (ou mesmo não querer). Um dia talvez consiga escrever algo que toda gente perceba este vazio. Talvez deixe de escrever porque as palavras não chegam para disfarçar isso mesmo.

beijo ****

12:06 da manhã  
Blogger MRA said...

Gosto muito destas estórias...

Abraço e bom Natal!

12:29 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Finalmente vim desaguar a este rio ;) Palavras esculpidas com mestria...uma escrita perfeita :) Um beijo enorme

1:48 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Mensagem linda de Natal!
Obrigada pelo teu presente, Ricky!
Bjinho

2:06 da tarde  
Blogger vero said...

Querido Ricky...

Venho agradecer as sempre tão simpaticas palavras que deixas lá no meu cantinho!

Beijinhos ***

Obrigada pelo carinho :)))

2:40 da tarde  
Blogger Manel do Montado said...

Extraordinária adaptação do conto, de tal forma o fizeste que me pareceu mais verosímil assim, imaginando as cheias do rio Incomati, o calor do natal moçambicano e a simplicidade das suas gentes.
Ah! Meu contador de histórias, que bem que me fazes ao recordares na tua excelente escrita aquela terra.
Espero bem que a tal virose não te volte a chatear e que o Glorioso te continue a dar alegrias.
Um abraço amigo do Maneli.

4:53 da tarde  
Blogger Mikas said...

linda história e linda lição, as gentes de África são generosas e hospitaleiras. as vezes quem menos tem é quem mais dá.

5:08 da tarde  
Blogger Isa Maria said...

é sempre bom ler estas histórias que são magníficas.

6:10 da tarde  
Blogger Leonor said...

ola ricky. ja sentia saudades desse tom afavel dos teus comentarios a que me habituaste durante meses.
por uns tempos senti-te distante.
mas eu sei o trabalho que um blog da ate criarmos a rotina com ele.

o teu relato... excelente.

abraço da leonoreta

9:57 da tarde  
Blogger aDesenhar said...

pensava que tinhas regressado a Moçambique :)
agradeço o comentário no meu cantinho.
também aqui o teu texto é revestido de gente simples.
Mais uma vez e nunca é demais repetir,
pergunto para quando a publicação em livro das tuas memórias de Moçambique!
ahhh ...
aquela bela imagem fez-me recuar ao meu tempo de tropa em Angola. :)

abraço e desejos de um Feliz Natal

11:22 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Ricky

Como eu gosto de te "ver" no meu "canto"

Que bela história - que lição se tira dela!

Como sempre (mais uma vez) fiquei encantada/maravilhada com as tuas palavras.

Também me sinto muito bem por aqui - com todos estes aromas deliciosos.

Beijinhos

11:28 da tarde  
Blogger Isabel Filipe said...

Gostei de ler...
ficou óptimo.

Bjs

10:44 da manhã  
Blogger Impensamental said...

bom dia.

11:53 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Ricky

Amei ! Para variar viajei e sonhei ! Um Santo Natal para ti e todo os teus Jinhos

12:35 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

o que fiz? saiu meu endereço todo, mais uma da nabiça? ehehehe desculpa

12:36 da manhã  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Ricky

QUERO DESEJAR

UMAS FESTAS FELIZES

COM MUITO AMOR, SAÚDE E MUITA PAZ

Beijos c/amizade

5:20 da tarde  
Blogger mfc said...

Comovente e ao mesmo tempo uma lição de vida.

6:03 da tarde  
Blogger A .Carlos said...

Olá Henrique,
Que lindo conto, maravilhoso mesmo.
E tão recheado de mensagens sublimes e tão necessárias à Vida.
Aproveito para...Nesta Época em que o tempo disponivel é escasso, desejar desde já, um lindo e feliz Natal,Que todos os teus desejos se tornem possiveis, e que na companhia dos teus mais Queridos, sejas muito feliz.
Para Ti, um Feliz Natal deste "New Day" e desejo para todos os teus Dias, um "Novo Dia" cheio de Paz,Alegria e Amôr
Até breve...
Abraços
:)

4:52 da tarde  
Blogger Que Bem Cheira A Maresia said...

Olá:)

Vim cá fazerte uma visita e aproveito para te desejar um Feliz Natal e que o Ano de 2006 seja mensageiro do que mais desejares.

Beijo da Lina/Mar Revolto

7:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Adorei, senti o cheiro de África.
Se não te importares, vou levar para V. Pery, claro com a devida indicação de autoria e proveniencia.

3:15 da tarde  
Blogger Henrique Santos said...

A todos os meus amigos e amigas, naturalmente, os meus agradecimentos. Nesta quadra desejo a todos um Santo Natal, e o post seguinte, por isso mesmo, é-vos dedicado.
Uma vez mais os meus agradecimentos,
Ricky

6:59 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este texto é mesmo grande

9:37 da manhã  
Anonymous Áurea said...

Este é o verdadeiro espírito do Natal, que se manifesta tanto em NY como no interior de Moçambique.
Depende de nós.
Estamos a pouco mais de um mês de um novo Natal. Já estou me preparando. Segundo um irmão, ele torce para que eu e minha casa sejam sempre "a Roma de César", em que todos sintam-se em casa, seguros e amados, especialmente no Natal, tempo em que recuperamos as esperanças de tempos melhores.
abraços
Áurea

P.S: sou brasileira e meu marido está trabalhando em Moçambique. Pela primeira vez, em 40 anos, talvez ele passe o Natal longe de nós. Que por lá exista o Macitela por lá.Que Deus ilumine a todos os Macitelas!

2:50 da tarde  

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