De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

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Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

segunda-feira, novembro 07, 2005

Viagem ao rio dos elefantes....



Férias em Mapulanguene – Viagem ao Rio dos Elefantes
À memória de Rui Calrão


I - A IDA


Naquela noite levámos algum tempo a adormecer. Estávamos ansiosos pela chegada da madrugada. Íamos com o meu pai ao Rio dos Elefantes, e a saída estava marcada para as quatro horas da manhã. A experiência ia ser fantástica, tão diferente do liceu, do "xilonguine", (a 210 kms e Magude a 100 kms) das matinées do Scala e da praia da Polana. Finalmente acordámos ao chamamento da mãe Maria, com o pequeno almoço já feito, café com leite, torradas com manteiga e ovo mexido com rodelas de chouriço, e meia papaia para desjejum, isto depois duma chuveirada para acordar... O farnel estava já acondicionado nas cestas e nos termos, o Land Rover estava já "carregado", com uma "ponte" 22 e uma 30, mais uma caçadeira para as galinhas do mato e perdizes. Finalmente a caminho, ainda de noite, o meu pai, nós e o ajudante Bingadze, homem sério, competente que "adivinhava" tudo o que precisávamos, sem ser preciso pedir. Logo à saida de Mapulanguene, para leste, junto à fronteira com a A.Sul ( do outro lado era o National Park Kruger), avistámos dois coelhos no caminho, atarantados com os farois do jeep, bem a geito, mas o meu pai "sossegou-nos" os ânimos – Meninos temos 80 kms para andar e a estrada não é fácil.Calámo-nos claro, mas ficou-nos uma vontade de atirar...O dia amanheceu alegre, o cheiro a mato fresco, pelo cacimbo da noite, o alegre chilrear dos pássaros, de todas as cores e feitios, as primeiras rolas, as perdizes a esvoaçarem assustadas, e até uma cobra a atravessar a estrada, as micaias, sempre bonitas com as suas folhas pequenas e bem arrumadas, (desde que longe da pele, claro) aqui e ali as massaleiras amargas, intactas, e de onde em onde as outras, doces, devassadas pelos macacos e elefantes, que se não deixam enganar. Eu juraria que as massalas são iguaizinhas, mas não, as amargas ninguém lhes pega e as doces desaparecem logo. Tentavamos encurtar caminho, indo pela baixa, com capim alto, produto das chuvas, já seco, e o "velhote" guiava com cuidado não fosse aparecer um morro de "muchem" (formigas) e virar o jeep. Um pouco à frente apareceu uma manada de impalas e de cocones, e um impala macho bem á nossa frente, atónito, a uns vinte metros... e o meu pai a dizer ... – meninos temos tempo na volta, admirem só a beleza que eles tem... Enfim, outra oportunidade perdida, que nós geriamos com dificuldade. O Rui transpirava e eu suspirava.... De repente, um espectáculo raro! Um jacaré espetado numa árvore seca, numa espécie de forquilha. Que fazia ali, um jacaré a dez kms do rio? Como fora ali parar? Dois residentes da área que por ali passavam explicaram-nos a razão de ser do mistério: - O jacaré meteu-se com uma cria do elefante e a mãe zangou-se e agarrou o jacaré e trouxe-o até aqui e espetou-o nesta árvore... Imaginem a cena e meçam a ira daquela mãe!!!Mais uns kms e finalmente chegámos ao rio dos elefantes ou rio das pedras como também é conhecido na zona. Debaixo duma grande figueira africana, já velhota, certamente a matriarca das outras que a rodeavam, puxámos dos cestos e fomos almoçar naquela sombra maravilhosa. Frango à cafreal, molho picante, arroz de coco, pão, coca-colas e vinho, bananas e a sestazita para retemperar, vendo o fiozito de água a correr sobre as pedras, lisas e brancas. Deitados, tentávamos descobrir os pombos verdes que, de quando em vez, se mexiam nos ramos da figueira e fazíamos disso uma espécie de jogo...


II – O Regresso


Depois daquele descanso providencial, depois de arrumarmos as "timpachas", subimos a ladeira e lá nos direccionámos a oeste rumo a casa. Os nervos estavam à flor da pele, o "velhote" ia dar finalmente a sua licença para caçar. Na savana, de capim alto e seco, com os arvoredos ao longe nas partes mais altas, o sol fazia-se sentir e de que maneira. Finalmente, chegámos ao centro do que iria ser o "teatro de operações". Sùbitamente o velhote parou o jipe, e disse-nos: têm uma hora para mostrarem o que valem, as impalas estão além, têm o sol e o vento a vosso favor, agora a pé, toca a caçar. Esta é a primeira lição que vos quero dar, pois caçar não é matar, há que dar à caça oportunidade para se defender. Boa sorte. Que castigo! A pé!? Pois, era a lição, nada de vantagens... agora percebíamos porque nos tinha proibido de atirar de manhã. A caça estava parada e nós de carro tinhamos toda a vantagem. Mas lá fomos e tudo correu mal... cansados, apenas conseguimos uma impala macho ( porque se fosse fêmea tinhamos o velhote à perna e de que maneira! Num tiro muito de sorte já no regresso para o jipe e do ... saudoso Rui. Valeu durante o resto da viagem uns tiritos bem bons de caçadeira que nos renderam umas galinhas do mato e umas perdizes, que muito agradaram à mãe Maria, que nos proporcionou nos dias seguintes belas refeições ... moçambicanas, em pleno mato! Bem, esta viagem deu para contar estórias, um pouco aumentadas, claro, naqueles corredores do liceu, que vocês nem calculam. Conseguimos ter a atenção das miudas durante um período inteirinho, para desespero dos nossos colegas...ahahahah. Foi mesmo bom. Desta estória ressalta a saudade de um amigo, que DEUS o tenha em sua Santa companhia, e a lição do papai, velho defensor da fauna africana...
Ricky

15 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

2:42 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

2:42 da tarde  
Blogger Que Bem Cheira A Maresia said...

Que bela viagem que eu fiz ao ler-te. Obrigada!

Boa semana!

Beijokas da Lina (mar revolto)

4:22 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Olá Ricky

Que incrível passeio que dei contigo! memórias ricas - numa vivência preciosa. História repleta de involvências nos cheiros de África que tu compões maravilhosamente.

Obrigada pelo passeio

Beijinhos

4:58 da tarde  
Blogger aDesenhar said...

olá henrique santos

esta é uma daquelas exóticas viagens para saborear numa tarde calma propícia a boas leituras.

abraço :)

5:01 da tarde  
Blogger Menina Marota said...

Viajei contigo, "vivi" a cena daquela mãe elefante a vingar-se no jacaré...

Um belíssima narrativa... parabéns.

;)

12:17 da manhã  
Blogger Carlos Gil said...

Continua, que eu 'em silêncio' vou devorando tudo.
Abraço

12:47 da tarde  
Blogger Manel do Montado said...

Ó "chamuar" quando é que pões isso em livro?
Estava atrasado na leitura aqui do teu sítio, mas assim é melhor, le-se tudo de uma vez, a chatice é que se fica com pena de não haver mais.
Fico á espera.
Agora cá entre nós, ainda sinto o cheiro do escape do land Rover e aquele barulho característico deles.
Um abraço daqueles e kanimanbo

2:07 da tarde  
Blogger Henrique Santos said...

Lina (mar revolto/mar azul)
Que grande parceira de viagem... ainda bem que gostaste.
Bjinho Ricky
Betty
Como é importante a tua presença, a tua opinião. Obrigada.
Bjinho Ricky
adesenhar
... com exotismo próprio daquelas paragens... maravilhosas...
Obrigada pela tua opinião sempre importante
Um abraço Ricky
menina marota
... é, o jacaré fez uma marotice, e a mamã elefante é terrível, quando se zanga...
Bjinho Ricky
... belas palavras, obrigada
Ricky
Carlinhos
.. opinião dum escritor é sempre benvinda, kanimambo Ricky
Manel
..'tá quasi caramba... vou fazendo força... obrigada, um abração Ricky

4:01 da tarde  
Blogger "Sonhos Sonhados" e "Os Filmes da Minha Vida!" said...

kerido Henrique

parece que ressuscitei!

estive a ler o teu mail.
os teus contos são fantásticos!
nunca pensaste em publicar?

desculpa a pergunta,
mas nasceste
ou viveste em África?

jinhux grandes da létinha.

4:14 da tarde  
Blogger Isabel Filipe said...

oi....

cadê um Post novo???...

rsss...um que eu não conheça???

bjs

9:59 da manhã  
Blogger Cristina said...

Ricky,
Estou adorar esta série de posts da tua viagem á Africa do Sul :)...Está-me a trazer muitas recordações....
Continua...obrigada pelas tuas palavras lindas no meu mundo
:)
beijinhuuuu

12:58 da tarde  
Blogger mfc said...

Estive lá contigo, dado o realismo da narrativa.
Só não gostei muito de me levantar às 4 da manhã... mas tinha que ser!
Um abraço pelo belo texto.

5:32 da tarde  
Blogger Luisa Hingá said...

Ricky obrigada por este avivar de memórias.
Um abraço

10:41 da tarde  
Blogger Henrique Santos said...

Sonhos Sonhados,
Já pensei, em agrupar no mesmo livro, as minhas memórias e uns poemas... Nasci em Moçambique, na então Lourenço Marques em 1942.11.27, no século passado...
Isabel,
Claro que virão coisas novas, até porque já estão feitas... breve, breve...
Nita, olá
As palavras lindas são merecidas, e pronto! Obrigada minina...
mfc
Levantar às quatro da manhã ali, naquele contexto sofria-se menos... aqui, no Inverno.... uuffff mas valia a pena. Obrigada pela visita...
Luisa,
Estás bem? Obrigada pelas palavras, de ti são sempre bem planeadas, com autorização para rolar e ...
A todos obrigada, Ricky

3:39 da tarde  

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