De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

Nome:
Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Crónicas de Férias (continuação) II


CRÓNICA DE FÉRIAS II

A VACINAÇÂO DE GADO...

Uma breve explicação, do que é de facto uma vacinação, muito reduzida, porque não sou especialista na matéria, uma explicação dum observador, para leitores também sem conhecimentos técnicos. A vacinação de gado, fazia parte das atribuições profissionais do meu Pai. Para mim era fascinante assistir ou, até colaborar. O médico veterinário responsável, chefe dos serviços, vinha de Magude ao encontro do meu pai, a cerca de quarenta quilómetros, mais ou menos a meio caminho. Nesse local, havia uma zona “especial”, dum tanque carracicida, preparada para vacinações. Para ali convergiam neste dia cerca de mil e duzentas cabeças de gado de vários criadores, uns indígenas (vacinação gratuita) e outros colonos (vacinação paga). Era um mar de gado bovino, e nenhuma cabeça se perdia do seu agregado. Cada agregado tinha os seus pastores, com os seus cães ladinos, dos quais se distinguia um, que era o mais responsável, a quem os bovinos “bem conheciam”. Bastava que ele assobiasse, e todo o seu gado logo respondia. Dum grande curral partia um “corredor”, por onde o gado teria de passar, um espécie de estreito, onde não havia espaço para “movimentos bruscos”. Ali, quer o médico veterinário, neste caso específico, o meu querido amigo dr. Costa Neves, e o meu “velhote”, injectavam cada bovino, com as respectivas seringas automáticas. No caso daquela vacinação, uma injecção sub-cutânea, que não me recordo se contra carbunculos, febre aftosa ou brucelose... Vacinavam entre mil e cem a mil e quinhentas cabeças de gado, entre as seis da manhã e o meio dia. E, a cena repetiu-se.
Levantámo-nos da cama às quatro da manhã, para encetarmos a viagem ao encontro daquela cena profissional que se foi repetindo, ao longo da vida do meu pai. Tudo estava combinado, ensaiado e funcionava. A minha Mãe sabia o que fazer, o lanche para a viagem, os pequenos almoços antes de sair, só que desta vez com o acréscimo da minha parte. Por mim, até havia um bolo de chocolate e amêndoa, que nós, pai e filho, e o dr Costa Neves, tanto gostávamos. A viagem sempre repleta de surpresas, com o caminho cheio de coelhos vagabundos, que se encandiavam com os faróis, com uma ou outra impala, nhalo ou kudu, apressado, no meio das micaias, uma ou outra galinha do mato, perdizes empoleiradas na árvore do seu “casulo”, ou mesmo duma giboia a atravessar a estrada, na sua incessante busca de alimentos p’rá semana. Ao raiar do dia, eis que o espectáculo se adensa, como que as cortinas do mega teatro se abrem e o Criador apresenta a sua gloriosa criação africana, uma fauna diversa, linda e colorida. Entram em cena os pequenos cantores, de penachos coloridos, entoando as melodias da aurora, a alegria da celebração da sobrevivência, um novo dia a ser acrescentado às suas vidas, que a cadeia alimentar funciona também, diàriamente e é implacável nas suas regras. O crescendo do espectáculo, enche-nos de vida, e a admiração da beleza daqueles raios de sol, a desbravarem a noite, rasgando-lhe as entranhas num bailado sempre repetido, para no grande final, surgir por sobre as copas das árvores, trazendo luz e calôr, como só áfrica tem e dá generosamente. Este mega espectáculo, que se repete em tons sempre diferentes, com os efeitos do cacimbo, por vezes, a tentar impedir a invasão do sol ràpidamente, prolongando o tempo de manobra, dos predadores da escuridão, é realmente único e majestoso. D’áfrica tenho esses registos dos “nascer do sol” que me fascinaram sempre, até mais que o pôr do sol. Talvez porque a “música” seja outra, a alegria de viver, da sobrevivência Os cantores protagonistas primeiros dessa rara alegria da manhã, as aves, no seu incessante clamôr num hino à vida e à liberdade, executam com maestria, nota a nota, dia após dia, a sonata mais linda que conheço.
Chegámos finalmente ao local, onde o som era outro, o "falar dos bovinos" algo assustados. Os encarregados locais, já tinham organizada a sequência, consoante os locais de vinda, para prevenir um regresso das cabeças de gado à água e às pastagens, o mais rápido que fôsse possível. O Dr Costa Neves chegou entretanto, e depois das saudações, montado o esquema, não havia tempo a perder. Sempre num encadeado bem marcado, por um ritmo impressionante, os nossos protagonistas iam cumprindo as suas obrigações. Apenas uma chamada de atenção, para o facto de que, tanto me custa ouvir dizer que em Moçambique existia apenas colonização, que se não trabalhava, aqui fica o meu protesto. Tantos profissionais, com ordenados de função pública, prestavam ao povo moçambicano estes serviços essenciais, no interior do mato, trabalhando das quatro da matina ao meio dia, sem descanso... Eu diria, professores primários, administrativos, ajudantes de pecuária, vetrinários, médicos, enfermeiros, e quantos mais, que a história, a cumprir o percurso que está a fazer, deles fará apenas uma leve referência. E, os privados? Cantineiros, machambeiros (agricultores), criadores de gado, feirantes, sei lá que mais, verdadeiros elos de mercado permanente, essenciais ao desenvolvimento daquelas gentes, única via instalada para a civilização. Via ainda hoje não restabelecida, infelizmente.
Mas continuemos o dia. Eram doze e trinta quando o último bovino foi vacinado. Ouviu-se o assobio característico daquela manada, e todas as cabeças olharam o capataz para saberem a direcção a tomar. E lá foram à vida.
Fomos almoçar a casa dum criador, e lembro-me dum facto hilariante que aconteceu, assim que chegámos. A esposa do criador, vendo as caras cheias de pó do doutor e do meu pai, sobretudo, interpelou o dr. Costa Neves dizendo-lhe:
- Senhor dr. está tão empoeirado, não quer um copo de água gelada? Resposta pronta:
- Se por acaso tiver um pouco de whisky para desinfectar a água, eu agradeço...
Foi numa boa disposição evidente que nos preparámos para almoçar um bom e apetitoso cabrito assado no forno... Depois de muitas conversas naturalmente sobre caçadas e feitos de gente do mato, habituada àqueles ambientes de vida natural. Que bom! Como posso esquecer?
O regresso foi assim como, um voltar da festa, com cansaço, mas misturado com o sabor de algo muito bom, que ainda permanecia em nós...
O "stop" festejou o nosso regresso logo no quintal. Mamãe tinha já o jantar pronto, canja de galinha e frango frito com arroz branco, e molho de tomate com piripiri, papaia e café de termos...
(Continua)

26 Comments:

Blogger Leonor said...

descer a escada de modo esparaiado, rssssssssssss
adorei. fartei-me de rir contigo. voltarei para ler a tua cronica.

abraço da leonoreta

5:36 da tarde  
Blogger Era uma vez um Girassol said...

Vi tudo...Quase senti o pó!
Boa descrição dos factos passados em África, onde tantos trabalharam tanto, para depois serem apelidados de colonialistas. Gosto de ler estes relatos: haja alguém que reponha pouco a pouco a verdade dos factos.
Pena serem tão poucos...
Bjinho

7:17 da tarde  
Blogger vero said...

Querido Ricky,
como fiquei feliz ao "ver-te" de novo lá nos meus momentos de evasão!!!
K saudades!!!
Beijinhos***

1:41 da tarde  
Blogger ALG said...

Obrigado pelo seu comentário e pela visita!
Um abraço.

3:10 da tarde  
Blogger Padre Inquieto said...

Africa... um terra que deixa saudades... que bom quando alguém recorda uma terra amada por tantos portugueses. Quem conhece Africa nunca mais a esquece!
Se não se importa vou linká-lo.

4:00 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querido Ricky

Nuances de África em cada palavra tua - num pôr-do-sol único. Cada detalhe "puxa-me" para dentro da história - e ouço o coração de África a bater...

Beijinhos

2:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Sempre agradável ler o teu livro de memórias :) Beijinhos

11:20 da manhã  
Blogger Isabel Filipe said...

...gostei de ler a continuação...

que ave é essa que está na foto?...já nem sei cvomo se chama...

Bj

10:09 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

e que bom que é ler as tuas histórias..... :)
Fico à espera da continuação.
Bjs

4:23 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Com relatos tão pormenorizados, quase fico com a impressão que estou em Africa!
Excelente post, onde consegues realçar com mestria os bons tempos em território africano.
Um grande abraço,

11:06 da tarde  
Blogger lena said...

tem um sabor especial ler-te, sou se África, consegui imaginar-me lá, e que bela aquela "galinha do mato" só que me lembro do meu pai dize “ jindungo” em vez de piripiri,
senti o assobio e vi todo o seu gado logo respondia, e que bom devia ser esse bolo de chocolate
saudades sinto quanto te leio, sinto o cheiro do mato, onde algumas vezes fui com o meu pai

beijinhos, meu amigo

lena

11:10 da tarde  
Blogger LUIS MILHANO (Lumife) said...

Já colocámos o cartaz promocional do ENCONTRO DE BLOGS EM ALVITO a 22 de ABRIL. Já se podem inscrever. Gostávamos de contar com a sua presença nesta confraternização. Um abraço.

1:16 da manhã  
Blogger A .Carlos said...

Olá Ricky
Mas que delicia de "petisco", esse jantar.
Mais um momento belissimo que nos contas,fico a aguardar a continuação
Bom fim de semana para ti
:)
Abraços
≺≺≺ A New Day ≻≻≻

2:38 da tarde  
Blogger Astri* said...

oh LOOOOOLLLLLL :D Lindo Lindooooo :D


beijinho grande meu querido *****

11:22 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Ricky

Passei para te dar um beijinho e um :)

Boa semana

12:10 da tarde  
Blogger Leonor said...

ai como eu gosto dos comentarios que me deixas.

estás a fazer relatos incriveis. continua.

abraço da leonoreta

8:32 da tarde  
Blogger Era uma vez um Girassol said...

Ricky. desta vez tenho de te passar a bola...Vai ao meu blog e verás...!!!!
Bjinho

11:08 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Também eu, tal como noutros comentários aqui deixados, adoro ler-te.As tuas palavras são os sinais do amor àquelas terras distantes, tão amadas hoje como dantes.
Um beijo da
Adolescente Irreverente

12:25 da manhã  
Blogger Henrique Santos said...

Bem tenho que me expor com cinco manias ou vícios... com sinceridade aí vão:
- Detesto mentiras, fico pior que possesso...
- Adoro comer gelados no inverno...
- Detesto que digam o que tenho a fazer... fico intratável...(já os meus pais se queixavam...)
- Não gosto de praia com vento forte, fico desambientado e rezingão...
- Gosto muito de namorar... mesmo a brincar... mesmo sem maldade... é tão bom falar docinho para uma mulher simpática...

Bem, gosto pouco de responder a inqéritos... ahahahahahah
Ricky, ao vosso dispôr...

4:10 da tarde  
Blogger Português desiludido said...

Ler os teus posts é como ir ao cinema e sem pagar....
Continua Ricky! Um grande abraço extenssivo ao teu maior....
Pedro

6:26 da tarde  
Blogger Fragmentos Betty Martins said...

Querido Ricky

O "Desafio" já está!

Dá um saltinho até à minha "casa"

Beijinhos

12:52 da tarde  
Blogger Leonor C.. said...

Viajei a Àfrica através das tuas palavras. Não tens aparecido por cá e sinto a tua falta...

Um abraço

7:44 da tarde  
Blogger PDivulg said...

Belos retratos com sabor ao outro continente. Gostei!

8:40 da manhã  
Blogger Leonor C.. said...

Meu amigo, obrigada por teres respondido ao meu apelo. Há alturas em que parece que tudo se junta para nos causar dano, não é? Espero que estejas bem melhor.

O meu filho Miguel partiu há 29 anos. Lembra sempre...

Beijinhos para ti

3:11 da tarde  
Blogger Isabel Filipe said...

...boa semana para ti....


beijinhos

11:20 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Não há duvidas que tens talento para escreveres estórias,as estórias armazenadas desde a infancia no maior computador do mundo,no blog da memóris.

victor

10:51 da tarde  

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