De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

Nome:
Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

segunda-feira, janeiro 30, 2006

Crónicas de Férias (continuação) II


CRÓNICA DE FÉRIAS II

A VACINAÇÂO DE GADO...

Uma breve explicação, do que é de facto uma vacinação, muito reduzida, porque não sou especialista na matéria, uma explicação dum observador, para leitores também sem conhecimentos técnicos. A vacinação de gado, fazia parte das atribuições profissionais do meu Pai. Para mim era fascinante assistir ou, até colaborar. O médico veterinário responsável, chefe dos serviços, vinha de Magude ao encontro do meu pai, a cerca de quarenta quilómetros, mais ou menos a meio caminho. Nesse local, havia uma zona “especial”, dum tanque carracicida, preparada para vacinações. Para ali convergiam neste dia cerca de mil e duzentas cabeças de gado de vários criadores, uns indígenas (vacinação gratuita) e outros colonos (vacinação paga). Era um mar de gado bovino, e nenhuma cabeça se perdia do seu agregado. Cada agregado tinha os seus pastores, com os seus cães ladinos, dos quais se distinguia um, que era o mais responsável, a quem os bovinos “bem conheciam”. Bastava que ele assobiasse, e todo o seu gado logo respondia. Dum grande curral partia um “corredor”, por onde o gado teria de passar, um espécie de estreito, onde não havia espaço para “movimentos bruscos”. Ali, quer o médico veterinário, neste caso específico, o meu querido amigo dr. Costa Neves, e o meu “velhote”, injectavam cada bovino, com as respectivas seringas automáticas. No caso daquela vacinação, uma injecção sub-cutânea, que não me recordo se contra carbunculos, febre aftosa ou brucelose... Vacinavam entre mil e cem a mil e quinhentas cabeças de gado, entre as seis da manhã e o meio dia. E, a cena repetiu-se.
Levantámo-nos da cama às quatro da manhã, para encetarmos a viagem ao encontro daquela cena profissional que se foi repetindo, ao longo da vida do meu pai. Tudo estava combinado, ensaiado e funcionava. A minha Mãe sabia o que fazer, o lanche para a viagem, os pequenos almoços antes de sair, só que desta vez com o acréscimo da minha parte. Por mim, até havia um bolo de chocolate e amêndoa, que nós, pai e filho, e o dr Costa Neves, tanto gostávamos. A viagem sempre repleta de surpresas, com o caminho cheio de coelhos vagabundos, que se encandiavam com os faróis, com uma ou outra impala, nhalo ou kudu, apressado, no meio das micaias, uma ou outra galinha do mato, perdizes empoleiradas na árvore do seu “casulo”, ou mesmo duma giboia a atravessar a estrada, na sua incessante busca de alimentos p’rá semana. Ao raiar do dia, eis que o espectáculo se adensa, como que as cortinas do mega teatro se abrem e o Criador apresenta a sua gloriosa criação africana, uma fauna diversa, linda e colorida. Entram em cena os pequenos cantores, de penachos coloridos, entoando as melodias da aurora, a alegria da celebração da sobrevivência, um novo dia a ser acrescentado às suas vidas, que a cadeia alimentar funciona também, diàriamente e é implacável nas suas regras. O crescendo do espectáculo, enche-nos de vida, e a admiração da beleza daqueles raios de sol, a desbravarem a noite, rasgando-lhe as entranhas num bailado sempre repetido, para no grande final, surgir por sobre as copas das árvores, trazendo luz e calôr, como só áfrica tem e dá generosamente. Este mega espectáculo, que se repete em tons sempre diferentes, com os efeitos do cacimbo, por vezes, a tentar impedir a invasão do sol ràpidamente, prolongando o tempo de manobra, dos predadores da escuridão, é realmente único e majestoso. D’áfrica tenho esses registos dos “nascer do sol” que me fascinaram sempre, até mais que o pôr do sol. Talvez porque a “música” seja outra, a alegria de viver, da sobrevivência Os cantores protagonistas primeiros dessa rara alegria da manhã, as aves, no seu incessante clamôr num hino à vida e à liberdade, executam com maestria, nota a nota, dia após dia, a sonata mais linda que conheço.
Chegámos finalmente ao local, onde o som era outro, o "falar dos bovinos" algo assustados. Os encarregados locais, já tinham organizada a sequência, consoante os locais de vinda, para prevenir um regresso das cabeças de gado à água e às pastagens, o mais rápido que fôsse possível. O Dr Costa Neves chegou entretanto, e depois das saudações, montado o esquema, não havia tempo a perder. Sempre num encadeado bem marcado, por um ritmo impressionante, os nossos protagonistas iam cumprindo as suas obrigações. Apenas uma chamada de atenção, para o facto de que, tanto me custa ouvir dizer que em Moçambique existia apenas colonização, que se não trabalhava, aqui fica o meu protesto. Tantos profissionais, com ordenados de função pública, prestavam ao povo moçambicano estes serviços essenciais, no interior do mato, trabalhando das quatro da matina ao meio dia, sem descanso... Eu diria, professores primários, administrativos, ajudantes de pecuária, vetrinários, médicos, enfermeiros, e quantos mais, que a história, a cumprir o percurso que está a fazer, deles fará apenas uma leve referência. E, os privados? Cantineiros, machambeiros (agricultores), criadores de gado, feirantes, sei lá que mais, verdadeiros elos de mercado permanente, essenciais ao desenvolvimento daquelas gentes, única via instalada para a civilização. Via ainda hoje não restabelecida, infelizmente.
Mas continuemos o dia. Eram doze e trinta quando o último bovino foi vacinado. Ouviu-se o assobio característico daquela manada, e todas as cabeças olharam o capataz para saberem a direcção a tomar. E lá foram à vida.
Fomos almoçar a casa dum criador, e lembro-me dum facto hilariante que aconteceu, assim que chegámos. A esposa do criador, vendo as caras cheias de pó do doutor e do meu pai, sobretudo, interpelou o dr. Costa Neves dizendo-lhe:
- Senhor dr. está tão empoeirado, não quer um copo de água gelada? Resposta pronta:
- Se por acaso tiver um pouco de whisky para desinfectar a água, eu agradeço...
Foi numa boa disposição evidente que nos preparámos para almoçar um bom e apetitoso cabrito assado no forno... Depois de muitas conversas naturalmente sobre caçadas e feitos de gente do mato, habituada àqueles ambientes de vida natural. Que bom! Como posso esquecer?
O regresso foi assim como, um voltar da festa, com cansaço, mas misturado com o sabor de algo muito bom, que ainda permanecia em nós...
O "stop" festejou o nosso regresso logo no quintal. Mamãe tinha já o jantar pronto, canja de galinha e frango frito com arroz branco, e molho de tomate com piripiri, papaia e café de termos...
(Continua)

sábado, janeiro 21, 2006

Crónicas de Férias


Prólogo

Estava dividido, entre as férias que iriam começar, no mato, e a saudade das aulas, mais pròpriamente dos colegas (delas sobretudo...). Tinha tido boas notas, que me davam um bom ambiente familiar. Comecei por me entusiasmar, recordando as caçadas, os passeios naquelas estradas difíceis, ou na oportunidade de guiar sem polícias por perto, pois tinha apenas dezassete anitos. Na saudade das comidas da minha mãe, ali, todos os dias, nos mimos dos seus doces, no encanto da forma de me acordar todas as manhãs, com o banho pronto, e torradas na mesa, com o café com leite a fumegar... Balançando entre as matinées, de mão na mão com a menina, e a animação dos colegas, as futeboladas extra campeonato, os bailes dos clubes, na Casa das Beiras, nos Velhos Colonos, nos Naturais, no Grémio... De facto o meu coração não sabia o que queria. Todavia, venceu a áfrica desconhecida dos citadinos, aquela áfrica misteriosa, que fala aos corações, até nos seus silêncios. Menos pelos tiros nas caçadas, parcos, que o meu pai vigiava por perto, ele que era um exigente defensor da fauna africana. “Deformação profissional”, que eu respeitava, consciente. Mas aquele sabor único, do ar fresco da manhã, daquele chilrear autêntico e incessante da passarada, a anunciar o dia, a animação do meu “stop” , um salsicha preto, companheiro inseparável do meu pai e da minha mãe. Num àparte, devo confessar que me servia dele, para fazer um número, digno dum mágico dos bons... Naquela terra, que já citei noutras vezes, Mapulanguene, havia pràticamente só jeeps Land Rover. Ninguém passava para ali com outros carros, por causa das estradas. O nosso VW ficava em Magude, distante cem quilómetros, por causa das “tosses”. Quando estava em casa, sabia sempre, quando o meu pai vinha a chegar, ouvindo apenas o barulho do motor do carro. Todos ficavam intrigados com a façanha, porque ali os barulhos eram todos iguais, a estrada era ali junto à janela, e os carros eram da mesma marca!. E, eu caladinho, bastava-me olhar para o “stop”, sorrateiramente, e se ele abanasse o rabo, era certeiro, só podia ser aquele jeep, o do meu pai! Como é que ele sabia, não me perguntem, mas que me deu imenso gozo passar por mágico, deu! Só mais tarde revelei o segredo. Foi assim que me alegrei e me convenci, com a ideia de estar afastado da cidade, durante uns tempos.

O sabor do primeiro dia...

Estafados da viagem, adormecemos ràpidamente. Eram sete horas, quando a minha mãe me acordou, como só ela sabe. Disse-me com aquela voz de mãe:
- Olha o sol, Henrique, como está bonito hoje. Tens a água quente na banheira, não a deixes esfriar, vou fazer ovos mexidos com cebola e chouriço, o pão veio agora do forno, não te atrazes.
Depois do beijinho, eu não resisti. Aliás, não há preguiça nenhuma que resista nestas circunstâncias! Assim, o dia começava, também, com a alegria do “stop”, que não cabia em si de contente por me vêr ali, à mão de semear. Eram as saudades, e como ele se manifestava. Sem nenhuma viagem programada, queria visitar a aldeia, os meus amigos, enfim matar as saudades que tinha desta gente boa, que no interior de áfrica, ali tão distante duma simples modernidade, trabalhava para o seu sustento, mas também para o desenvolvimento do país, numa actividade tão anónima, quanto valiosa, e que se calhar nem a história contemplará, com mais de duas ou três palavras. Fui até á escola, pois a casa do mestre estava a ela agregada, cumprimentar o professor Faria, meu companheiro de caçadas e dos petiscos de férias, e a esposa a D. Alzira, que apesar de não terem filhos, tinha sempre à sua volta, não sei quantos meninos da escola, que aproveitavam a sua bondade e disponibilidade, para usufruirem dum estatuto filial bem notório. Uma hora e picos, numa conversa a pôr o noticiário em dia, que eles queriam saber novidades da civilização. Sobretudo de cinema, o que havia de novo para vêr, que músicas se haviam estreado e, mais isto e aquilo, num repositório próprio, para quem está a duzentos e tal quilómetros de maus caminhos, da civilização. Falaram-me depois, da grande novidade para aquelas terras, pois a trinta quilómetros dali, na missão de Santa Quitéria, o Senhor Bispo vinha às festas da Missão, e ao Crisma de centenas de jovens. Fiquei a saber que todas as senhoras estavam convocadas para contribuirem com pratos tradicionais, bolos da especialidade de cada uma, e também, naturalmente, daquelas doçarias que tanto nos fazem água na boca: os arroz doces, as fatias douradas, os pudins... é melhor parar por aqui... Fui depois ao posto administrativo onde o chefe Leonor (como me divertia este sobrenome...) me recebeu de braços abertos, pois apesar de ser sportinguista e eu benfiquista, nós portávamo-nos bem... A esposa a D. Luisa, convidou-me logo para almoçar, num dos dias seguintes. Sugeri logo o coelho à caçadora, que ela fazia tão bem. O “filhote”, Rui, já crescidito, com cinco anos, andava por ali nas diabruras bravas, segundo a mãe, porque ele era bravo, saía ao pai... Coisas de mães, digo eu... Chegada a hora, voltei a casa, para o almoço de sempre, quando se regressava da cidade, peixe fresco, no caso – garoupa no forno, com todos! No mato o peixe que se trás fresco, tem de ser consumido logo, para não perder as qualidades, só o bacalhau sobrevivia a esta regra. Como sempre, aquelas mãos divinas da minha mãe, tinham feito um pitéu maravilhoso.Antes, o caldo verde, de sabor e aroma próprios, que o meu pai “inundava” de azeite cru, com o chouriço adequado, foi um grande complemento, e uma principesca preparação para o que se lhe seguia. Estava no meu mundo, na minha casa, a usufruir dos mimos da mãe, que bom que era. Imaginem só terminar o almoço, com uma suculenta manga, colhida naquela manhã, comida à maneira africana, rasgando com os dentes a casca, e chupando o caroço até ficar com os fios brancos. Que maravilha. Fiquei sonolento e dormi uma sesta até ás três horas. Fui continuar a minha visita, agora na zona das cantinas, mais além, um pouco separada destas casas, talvez quinhentos metros. Como que se demarcando para uma zona comercial. Fui vêr a “burra”, bicicleta para nos entendermos melhor, enchi os pneus e pus-me a caminho, com o stop todo contente. A primeira cantina (casa comercial) era a do Varagilal, “velho” amigo, que me recebeu de braços abertos. Ali, como sempre, faziam-se os negócios habituais. Trocava-se uma lata de milho, por não sei quantas capulanas, ou sal, ou mafurra (óleo de amendoim), ou ainda se trocavam galinhas por sal, ou latas ou sacas de amendoim por mercadorias diversas. O dinheiro ali, só pràticamente quando os “magaíças” voltavam do Jonh. (magaíças-mineiros moçambicanos que iam para Johannesburg ganhar a vida). A minha mãe, por exemplo, “comprava”, um frango por uma lata de sal, o que irritava um pouco os cantineiros porque a bitola era um pouquito maior. De referir que o povo preferia esta troca simples, do que usar dinheiro, que gastavam quase sem critério. Passei pela seguinte, a do Hamid e a alegria do cumprimento foi a mesma. Nem nunca me passaria pela cabeça visitar um, sem o outro. Era o fim do mundo. O mesmo ambiente, com as mesmas regras, também na seguinte e última a do sr. Silva, amigão do meu pai, que mais tarde viria a ser meu compadre, pois fui padrinho da sua filha Margarida. Faltava o posto de enfermagem, mas o enfermeiro estava de viagem, ficaria para outro dia. Estava visitada a aldeia, uma aldeiazita, nos confins do mato, a sudeste de Moçambique, ali juntinho ao Kruger Park, que nós visitávamos com regularidade. Regressei a casa quase ao pôr do sol, o “stop”, que ia à minha frente, a cheirar todos os territórios marcados pelos seus iguais, e a remarcar alguns, ou a baralhar e dar de novo, sei lá, parou sùbitamente, espreitando uma perdiz descuidada. Só por uns momentos, porque ela depressa colocou os pontos nos iii, encetando um voo baixo, mas suficientemente rápido, para não dar azo a diabruras, dum cãozinho de sala... O susto que apanhei, pelo inesperado, fez-me olhar para o poente, onde se formava um pôr do sol, daqueles que fazem parte, do mistério de áfrica. É que à medida que a luz do sol vai diminuindo, o espectáculo dos raios de sol desmaiados, é acompanhado por sons cada vez mais marcantes. É a vida nocturna que reaparece no seu ciclo diário, e é a despedida do dia, generoso no calôr e na luz. É o acautelar dos perigos da caça leonina. Nesta áfrica misteriosa, esta fronteira dia-noite, é também, o sinal para o início da outra face, dum outro ciclo, o da sobrevivência. A morte de uns dará a vida a outros, e nos sons, escutam-se gemidos de mêdo, gritos de triunfo, avisos aflitivos. Nestes dramas, encenados pela natureza africana, estreiam diàriamente, espectáculos de ópera dramática, alegre e até de ópera “bufa”, só que com orquestras e vozes que soltam notas para uma melodia única, que só áfrica tem. Tudo me ocorreu com o presenciar deste ocaso pintado por Deus, nesta áfrica tantas vezes humanamente sofrida.

terça-feira, janeiro 17, 2006

PARA ALÉM DA VIDA

Para além da vida...

Prólogo
A vida, tal como a maior parte das pessoas a imagina, tem três grandes pontos de referência, as suas etapas: a nascença, a vida pròpriamente dita e a morte. É evidente que a vida tem maior peso na consideração de cada um, afinal é ela que se manifesta publicamente, neste mundo. Deixei a porta aberta à quarta condição do ser humano. Lá iremos na altura adequada. Neste prólogo, interessa realçar que a vida se encontra definida por um começo, o nascimento, e por um fim (?), a morte.
A fragilidade da vida...
O acto de nascer não é o princípio da vida, como se sabe, tudo começa com a fertilização dum óvulo. A partir daí tudo evolui e começa a ganhar corpo, até que o ser humano completado na sua formação, se apresenta ao mundo. Continua dependente, durante algum tempo mais, do apoio da mãe (dos progenitores) para sobreviver. E durante um tempo, vive, até que a morte aconteça. Este ciclo, por si só, demonstra logo uma fragilidade tremenda, e a morte ganha, por outro lado, uma importância demasiado grande. E porquê? Porque nada se sabe de concreto, do que pode haver, para além da morte. A dúvida por si só é demolidora, na questão de conferir à morte uma maior importância. Para os que crêem (como eu) numa vida para além da morte, sou cristão católico, a questão tem uma outra configuração, apesar da continuação dum certo sentimento de afastamento da morte. Uma das figuras da Bíblia que melhor se confrontou com a morte, foi Paulo, que dizia, inclusivamente, que era lucro. Adivinha-se claramente porquê, era o encontro com Ele, o fim dum percurso. Voltemos à questão inicial. A morte é um fim para alguns e uma continuidade, para outros. Em qualquer dos casos, valerá a pena ponderar sobre certas coisas. O homem batalha por certas questões, tantas vezes com um acalorado fervor, que mais parece lutar pela sobrevivência. Todavia nada dessas coisas poderá transportar na transição, ou o salvaguardará no final, se fôr esse o caso. À luz das religiões, fica claro, que ninguém transporta, para a nova vida, valôres físicos, ou seja, riquezas materiais, mas apenas e tão só o que realizou de bem e de mal. Se acredita na morte como um fim, que lhe servirá isso? A gestão das riquezas, levaria certamente uma modificação regeneradora, se se tivesse presente a inutilidade dela, no excesso, perante a não utilização em vida. Tão claro que La Palisse não diria melhor.
... as democracias encapotadoras...
Mas então, pergunta-se: Porquê? Se a vida é assim, porque se guerreia o homem, contra outro homem, por valôres, que à partida de nada lhe servirão? Quando se olha para tanta escravidão económica, lavada por democracias encapotadas, que pensar? Tanta corrupção ao mais alto nível, praticado por aqueles que encapotados pela democracia, que deixa de o ser. E que teriam obrigação de saber, da inutilidade do que praticam, para si próprios, ou para quem quer que seja. È a resultante duma teoria de vivência, com ausência de princípios básicos, que sustentaram as civilizações, nomeadamente a nossa, a ocidental. Ainda não há muito tempo, os europeus acordaram, para um remoque de consciência e votaram NÃO, a uma Constituição europeia, sem integrar, no seu seio, os valôres que na Europa ao longo da sua vida, constituiram os alicerces do seu desenvolvimento: - A tão propalada “civilização ocidental” baseada nos valôres cristãos. A própria Revolução Francesa, com todas as suas peripécias conhecidas, baseou a sua trilogia no Evangelho de Cristo. Porque será? Porque, se calhar, o Evangelho liberta mesmo, porque se calhar, tem no seu seio factores fortíssimos de libertação, desde a Paixão de Cristo, a libertação Universal, à por exemplo, libertação da mulher, pela primeira vez igualizada ao homem! Em todos os aspectos da vida, ali se encontram ensinamentos concretos que levam o homem à sua liberdade REAL! Jogar insistentemente, nas falhas humanas, da interpretação do Evangelho ao longo dos séculos, para o diminuir, ou mesmo achincalhar esta realidade, é uma manifestação de menoridade intelectual! Porque pode-se ser laico, mas aceitar os mesmos princípios cristãos, como forma de consolidar a vida em bases contrutivas e humanas. Não aceito que alguém diga, prosaicamente, que é HUMANO e defender o aborto às não sei quantas semanas! Ou é HUMANO e defende a vida humana desde o princípio, ou deixa de ser humano. As duas coisas são incompatíveis! Este exemplo serve para ilustrar o que atrás disse, sendo laico pode-se defender a vida, ou não? Também não aceito o “slogan” tantas vezes dito, pelos defensores do aborto “Está em causa a dignidade da mulher...” Com franqueza, dignidade, num aborto? São estas falhas, que a cada passo verifico, que tanto me afligem, porque os princípios porque fui educado, e pelos quais tento educar os meus netos, começam a tentar serem “apagados” da vida quotodiana.
Epílogo
E, assim, chegamos ao fim deste exercício sobre um tema que tanto me aflige, a fragilidade da vida, “versus”o comportamento humano. Esta vida é uma passagem, rápida, um instantâneo, face à Eternidade que aí vem. Acho que todos nos devemos contemplar com um exercício de meditação. Acredite, que é uma boa prenda!
Ricky, 17.Jan.2006

terça-feira, janeiro 03, 2006

Um ANO NOVO cheiinho de coisas boas...





Fotos do meu baú

Olá Gente Boa...
Tantos me procuram para saber o título deste blog, acham-no estranho. No início expliquei, mas já foi há tanto tempo... Nessa altura disse:


A razão deste título...De costas para o rio... feitas as apresentações, lançada que foi a minha primeira pedra deste edifício, quero explicar-vos o porquê deste título. Num belo almoço, à beira rio, na margem sul, alguém muito especial me questionou sobre o blog. Que sim, mas também, e afinal nem tinha ainda sequer, título! Ah mas até pode ser de costas para o rio... Aceitei, institivamente o desafio... Mais tarde verifiquei o quanto estava certo. Vejam só:

De costas para o rio,

p'ra não ir nele p'ró mar...

Nesta terra árida de baldio,

procuro razões para amar...

Neste cantinho, terei oportunidade de me expôr. Muitos amigos meus me dizem, que a minha poesia é uma autobiografia. Não será totalmente assim, mas que ela de facto vem de dentro, vem. E, não será toda a poesia uma forma de exposição, mais ou menos esclarecida? Por isso tinha pensado pôr em rodapé, uma informação que diria: Quem sou eu? Aqui me fotografo,para que me vejam...


Assim, nesta viragem do ano, quando já sou mais rico porque vos encontrei, porque sou visitado por "gente boa", que me tocam no coração, que me deram tantos poisos para o espírito, que prazenteiramente visito, venho aqui a terreiro para vos agradecer. Agradecer as críticas, a amizade latente em cada palavra que aqui deixaram, o incentivo para a continuidade deste diálogo, quiçá para ir até mais longe. Humildemente vos agradeço e lanço o meu BEM HAJA!
Claro que chegou o momento de vos desejar, formalmente, mas do fundo do coração, um Ano Novo, cheiinho de coisas boas... E, para rematar, um texto leve, para sorrir, dumas travessias de liceu... Estão salvaguardados os nomes, porque alguém me assoprou que... enfim, há quem tenha ciúmes aos sessenta... pois então!


PROIBIÇÕES

Naquele dia azarento, tudo me corria mal.

Cheguei ao liceu com uma cara de poucos amigos. A Zazá, a Belinha, a Teresa, o Neiva, o Gonçalo, o Padrão, o Toni, (os meus mais chegados na época) estavam de trombas...

Fiquei preplexo! Também? Afinal a razão era outra, o vice, que estava como reitor substituto, Balantas de alcunha, porque o Vieira Júnior estava de graciosa, tinha posto em tudo o que era lado, avisos bem elucidativos " Proibido Fumar - ... o desrespeito a esta directiva .... pode ir até à suspensão de 10 dias...

" Era grave, sobretudo para aqueles "meninos" como nós - 6º e 7º anos - que já se consideravam SENHORES do seu nariz. Estávamos a ser tratados como crianças, e isso era mesmo "ofensivo"! Fizémos uma reunião de emergência, e fomos ouvir os mais velhos - 7º ano! Aqui a hierarquia era mesmo para valer. Ali estavam o Manel, o Xico Peneda, a Maria João, a Maria Emília, a Vitó, enfim as grandes vozes. E ficou combinado...

No dia seguinte de manhã os meninos traziam vestidos calções e meinhas com sandálias - à pipi-, alguns com peitilhos, e elas vestidas com vestidinhos curtos, com trancinhas e lacinhos..... E, eles com carrinhos de Dinky Toys, de joelhos no chão num vozeirão "tttrrrruuuummmmmm" "pipipipi", "pópópó", etc... todos aqueles ruidos dos carros em dia de corridas... E elas? Com bonequinhas que embalavam com uma ternura tal, que embevecia o mais distraído.... mudavam os vestidos às ditas, com um cuidado extremo..... Bem, a confusão foi total... O Catarino. o Cansado Gonçalves, o Cândido Lopes, o Álvaro de Moura, a Rute Garcez, e mais uns quantos professores , riam às bandeiras despregadas e.... como que por encanto, os avisos no fim do dia desapareceram...

A vitória foi total!!!Passámos a tratar, com uma delicadeza tamanha, o vice reitor pelo senhor Gonçalves...

Memórias duma época linda da minha vida, 1959/1960.