De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

Nome:
Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

sexta-feira, setembro 30, 2005

À beira-mar...


Aprendi a crescer e a viver, sempre condicionado, por praias maravilhosas duma beleza inigualável. Praias, que hoje já são procuradas, por grandes interesses turísticos mundiais. Em Moçambique, nasceram nos últimos tempos "resorts", em praias, que nada tinham de apoio turístico no meu tempo. Ou melhor, tinham o maior bem, que pode existir hoje no mundo: a ausência de poluição. São sítios, que estão virgens à degradação da presença do homem, em massa, com o seu poder de destruição, infelizmente conhecido. Depois, aquelas belezas naturais, não se pintam, não se constroiem, elas existem, para que possam ser admiradas e usufruidas, com o respeito que se tem, por uma delicada flôr... Passei a minha vida a conhecer praias, ainda hoje não descobertas, como a da Kalanga, Manhiça. Uma praia, que tem a característica única de ter vegetação, muito próximo da água. Coqueiros, árvores frondosas e corpulentas, árvores de frutos silvestres, figos bravos, massalas e outros. Com uma fauna composta por macacos de pequeno porte, aves de plumagens bem coloridas, pombos verdes, uma espécie de papagaios pequenos, pintassilgos, "rabos de junco" e tantos outros. E, há as conhecidas de todos. Numa delas, aqui na Europa, se passa uma acção, ficcionada ou não, que um dia me pediu licença para sair... É uma poesia sentida. Oxalá gostem:

À beira-mar

Aquele sol de inverno,
veio quebrar,
por momentos,
a chuva teimosa,
que molhava ossos.
A praia, lá fora,
estava linda,
a areia dourada,
o mar de prata,
e a brisa suave...
E fomos de mãos dadas,
pela praia fora,
dando voz ao silêncio.
E, libertámos a pressão,
dum outro silêncio,
criado na solidão,
dum tempo frio,
dum inverno imaginado,
no sentir da ausência,
da presença ignorada.
E, depois, aquele sol,
tão oportuno, tão amigo
nos conduziu,
pela praia dentro,
ao encontro do futuro...
Então, te amei e fui amado!
O amor marcou presença,
e soberan nos abraçou...
E aquele passeio à beira mar
escreveu assim, uma história,
bela e inesquecível!

Ricky

quinta-feira, setembro 29, 2005

Borboleta - um instante de vida...

A minha neta gosta imenso de vêr livros de ciências, compêndios que mostrem a realidade que nos cerca... sem limites. Adora vêr planetas, estrelas, o sistema solar, adora vêr animais no seu "habitat", conhecer os seus hábitos, enfim tem uma inclinação segura para ... conhecer... Há tempos, falámos dos casulos dos bichos da seda, que ela meticulosamente criou, mas quis compreender o que era uma metamorfose... lá lhe expliquei, o melhor que sabia. Virou-se para mim e disse-me:"Avô a borboleta passa por tudo isso para viver, um só momento, quase?" Falei-lhe da intensidade de vida, dos animais que vivem pouco, para lhe dizer que a intensidade, que nos é dada pela nossa natureza, em nenhum momento deve ser alterada, sob pena de sofrermos consequências. Tudo tem o seu equilibrio... Nessa altura, o que ela me disse sobre a borboleta, deu-me o motivo para este "poema":

A Borboleta

Oh borboleta tão bela,
do teu voo se não adivinha,
o porvir da tua fofa cela!

Vem mostrar tua beleza,
nascida da metamorfose,
onde o amor é realeza!

Ultrapassas o teu tormento,
num segundo da tua vida,
na eternidade reflectida,
no sopro desse momento!

E a vida se renova no tempo,
no tempo que o tempo tem,
na alegria sem contratempo,
porque o futuro é um bem!

Ricky

quarta-feira, setembro 28, 2005

Manga Verde

Todos os que, tiveram contactos com mangueiras, sabem que a manga verde, pode até ser apreciada, com sal e até, com piripiri, numa confecção indiana, que se chama "achar de manga". Todavia, simples até é ácida e amarga, por vezes. Intragável, quase... Esta história verídica, (aia,ai a autobiografia...), começa num balcão dum banco, numa operação bancária tão simples. Uma senhora, já avó como eu, em substituição duma colega em férias, (coincidência...), atendeu-me e olhou-me fixamente, deixando transparecer, sem nada me dizer, que me conhecia... Eu, por mim, apenas me parecia que conhecia aquela cara de qualquer lado... Quando a senhora teve de analisar o meu BI, olhou-me, agora, segura do que iria dizer exclamou: " A manga era bonita e saborosa?" Como um raio, à velocidade da luz, na minha memória uma velha história apareceu, bem clara. Retorqui de imediato: " Linda, rosada, grande, docíssima... " Sorriu, conversámos... trocámos informações, mostrámos fotos dos netos... mas a história não termina aqui. Tinha mentido, e eu não estava a gostar disso. A manga tinha sido por mim arremessada, por raiva... Neste "poema" vos conto o resto. Pedi-lhe desculpa ao telefone, e li-lhe o poema. Cairam-lhe lágrimas mas ficou feliz. Partilho esta memória convosco, aqui, onde me fotografo, para me conhecerem...

Manga verde

Depois das aulas te mirava,
debaixo daquela mangueira frondosa,
teus cabelos soltos ao vento,
da côr da terra aqueles caracóis,
Era a entrada do paraíso,
do sítio das brincadeiras,
depois dos deveres da escola.
Eu acelerava a cópia, as contas,
e tudo o mais, para te esperar,
ali, naquele lugar, só nosso...
De caracóis ou de tranças,
com laços côr de mel,
os nossos olhos tanto falaram,
tanta jura fizeram, naquele lugar.
E, daquela flôr da mangueira,
tão prenha de tantas mangas,
escolhemos a maior como nossa,
aquela que comeríamos juntos,
o nosso sêlo da jura de amor!
Todos os dias a olhávamos,
à espera que crescesse,
para o dia da consagração!
Quis a vida que abalasses,
mais a família, para outro lugar,
bem distante daquele sítio lindo...
Zangado com o nosso destino,
arranquei a manga verde,
daquela flôr por nós escolhida.
.............................................................
Já Avó, perguntaste-me,
com os olhinhos inquietos,
se a manga tinha sido rosada,
se tinha sido bem gostosa?
Menti, disse-te que sim,
mas ainda sinto forte nostalgia:
oh manga verde, manga verde,
porque não amadureceste para mim?

Ricky 30.03.2005

terça-feira, setembro 27, 2005

Amor e.. a sorte.

A propósito duma poesia que em tempos floresceu, sobre um tema, que me saltou duma qualquer conversa. O amor e a sorte. Sempre ouvi dizer, que quem tem sorte ao dinheiro (ao jogo), tem azar no amor... Todos sabemos também, que os ditados têm fundamentos, numa racionalidade baseada na tradição, na conjugação de experiências e ou, coincidências. Ficar-me-ei por aqui, pelo lançamento dos dados, para uma discussão saudável: Que valem os ditados, provérbios populares? Como nascem? Para entreter, aí vai a poesia, que na altura brotou da minha imaginação para fora, em parto normal, rápido...
Um abraço, Ricky

O amor e a sorte

Pedra lascada,
brilho transviado,
ruga desfigurada,
amor inacabado!

Janela aberta,
fresta de luz,
monstro de capuz,
conclusão incerta!

Trôpego caminhar,
saltitar doloroso,
gaguez no falar,
descanso penoso!

Grito de alerta,
caminhar p'la certa,
sacudir o azar,
ter mais p'ra dar!

Construir a vitória,
saborear a história,
colher com fulgor,
receber o amor!

Ricky 07.07.2005

segunda-feira, setembro 26, 2005

O meu primeiro beijo...

Há sempre uma primeira vez para tudo.
Como foi o primeiro beijo? Lembrei-me como se tivesse sido ontem.
Na escrita das minhas memórias, há uns tempos descrevi, aqueles que foram momentos (antes, durante e depois) marcados com estilete na lembrança duma vida. O texto que agora reproduzo tens os nomes trocados, isto é, como se fosse ficção. Mas não foi, foi real. Vejamos se consegui reproduzir todas as sensações marcantes. Quem andou no meu liceu, reconhecerá alguns nomes de professores e locais da cidade do meu coração, Lourenço Marques, hoje Maputo, onde nasci. Passa-se há quarenta e cinco anos atrás...
Vamos lá à primeira exposição... à primeira fotografia séria...

O meu primeiro beijo...


Naquela tarde não conseguia concentrar-me... já tinha sido repreendido na aula do Jardim... e agora com o Cardigos , a coisa fiava mais fino. Vou ser chamado? E, ali estava o sumário desgraçado: “ Meninos, o sumário é: chamadas...”

O meu coração estava em polvorosa. Será? E fui, e não é que o Cardigos, “mau c’umás cobras” director de ciclo, teve uma percepção tão real da situação que me disse: “Vá se sentar, hoje vejo que o nosso chefe de turma está na lua...”

Juro que na lua não estava, mas no liceu ao lado, no D.Ana , numa turmazinha de lindas raparigas, especialmente da Belita, aí estava de certeza. Quando o bezouro tocou, voei para a saida, e aguardei por ela. Fui no grupo dela, conversámos, e a caminho da baixa, o grupo foi ficando mais pequeno. Agora saia esta, agora aquele, e quando passámos ao Girassol, já só íamos quatro. No Rádio Clube ficámos só nós. O meu coração batia, qual fórmula um em dia de chuva, pois o medo era tanto.... Gente, era importante, eu ia pedir namoro pela primeira vez, e uma nega era o fim da macacada.... eu estava apanhadinho de verdade.

Continuávamos a andar e... a coragem não aparecia, o prédio onde ela morava, quase próximo e... nada. Até que um pretexto tão do nosso agrado, cinema, despoletou a coisa. Ia correr no Gil Vicente o filme “ Esplendor na Relva “, com o Warren Beauty e Natalie Wood... Sugestivo... E, lá me decidi. E as mulheres são tão manhosas.... só me respondia, no dia seguinte, porque... ia pensar! Foi a noite mais longa da época! No dia seguinte esperei pela entrada dela, (ia perdendo a primeira aula...) e respondeu-me finalmente com o sim esperado. Fiquei nas nuvens, agora sim na lua, completamente, desafiei as leis todas da física. Digno do "Xanico, xim, xenhor" ( o professor de física, bem conhecido...). Os dias seguintes foram duma beleza tal, que eu nem tinha conversa, era só platonismo... passados três dias, de a levar a casa, tive autorização de ir à missa de sábado, com ela, à catedral, às seis horas. E o autocarro para Boane ( onde morava, a trinta quilómetros) era às sete. Depois da missa, fui acompanhá-la, com tempo à justa para o "machimbombo". Mas como era em caminho, pois a paragem era ao pé da fábrica de cerveja, para os lados do Ferroviário, tudo calhava bem... E como já era escuro, quando passámos à porta da TAP e como o candeeiro estava apagado ... demos um beijinho, tão rápido e desajeitado, de fracções de segundo, e mesmo assim parecia que todo o mundo tinha visto! Deus meu, que lindo, que sensação! Tinha sido até então o beijo mais importante da minha vida! Depois de a deixar à porta de casa, eu voei, eu dancei, eu cumprimentava toda a gente, eu queria gritar que era feliz! Eu queria partilhar com todo o mundo o que sentia. E querem saber uma coisa? ... ainda hoje me arrepia, só de me recordar... Romantismo "bacoco"? Fora de moda? Se calhar, também eu vou ficando "démodé"...

PS: Gente boa, visto à luz do que a vida hoje nos mostra é, como dizer, quase absurdo, não acham? Já lá vão, mais de quarenta anos! Foi o beijo mais rápido e desageitado, que alguma vez dei, mas é aquele que recordo com mais saudade...
Ricky
Escrito em: 2003-11-24

Do fogo sentido, ao fogo que arde...

De costas para o rio...... do fogo sentido ao fogo que arde...
Era uma tarde quente de Agosto.
A viagem feita vezes sem conta iniciou-se monòtonamente igual a tantas outras. Só a música ambiente teimava em contrariar. Recordações borbulhavam na memória, como água fervente, em panela cheia, como dizia, o poeta, prontas a saltar. Afinal, eu tinha dado tanta importância àquelas canções. Tinham sido marcos de registo "adolescentemente" maravilhosos!
As recordações são assim, doces e amargas, desejadas e dolorosas, mas ninguém as evita e todos querem reviver aqueles momentos, ainda que só desenhadas na imaginação. É tudo muito fugaz, incompleto, ao mesmo tempo bom e tão distante...
Naquela tarde, aquelas músicas, saidas dum baú de oiro, que um bom amigo me havia oferecido, assinalavam a sua presença, por mim de forma tão receptiva, agora o Clube Italiano, depois Os Cinco de Roma, a minha querida Techa, o Eduardo Jaime e ainda o João Paulo.
Foi muito duma vez só. Relembrei um passado com mais de quarenta anos... Os sentidos reagiram com júbilo, mas impotentes perante a realidade. Mas depressa me recuperei. Afinal quem tem essas recordações tão fortes assim, só pode ser feliz! Eu vivi aqueles momentos belos adormecidos, há tanto tempo, e o que aconteceu, foi apenas que acordaram todos ao mesmo tempo! E eu fiquei aturdido, foi o que foi.E ràpidamente mudei de tática. Passei a deliciar-me com as memórias, numa recordação calma, doce, e acreditem, de felicidade!
Sùbitamente parei, na estrada, num alvoroço enorme, bombeiros e populares acudiam ao fogo que se aproximava.E eu não havia dado conta.Questionei-me se havia de continuar ou não. Decidi-me pela aventura! Assim mesmo!
Afinal naquela tarde quente de Agosto, aquelas memórias revividas em catadupa, não tinham sido já uma aventura? Prossegui o meu caminho e pela primeira vez tive oportunidade de vêr um "fogo" ao vivo na minha frente.
Majestoso, de beleza satânica e destruidora, rebusca no nosso interior uma secreta vontade de o admirar, aquela máquina brilhante de queimar tudo à sua frente, imponentemente diabólica! De repente um pardal aflito, tão aflito que se deixou apanhar, pois estava completamente descontrolado. Agarrei-o e meti-o no carro e saí dali a todo o vapor. Mais à frente sem o fogo por perto, soltei o pardal e com a vista acompanhei o seu voo até poder. E dei comigo a imaginar, o quanto foi importante aquele pardal, porque me despertou duma realidade terrível, o de "gostar" de vêr o fogo destruir... do seu espectáculo lindo e terrível!
Duma memória bela,duma adolescência emocionalmente rica e bem vivida, para um espectáculo dantesco! Não vou esquecer depressa o contraste do fogo sentido, ao fogo que arde. O primeiro rasgou e aqueceu-me o coração, e o segundo tudo destruiu à sua volta.
Que experiência, meu Deus, que experiência, naquela tarde quente de Agosto.

Agosto de 2003
Ricky

domingo, setembro 25, 2005

A razão deste título...

De costas para o rio... feitas as apresentações, lançada que foi a minha primeira pedra deste edifício, quero explicar-vos o porquê deste título. Num belo almoço, à beira rio, na margem sul, alguém muito especial me questionou sobre o blog. Que sim, mas também, e afinal nem tinha ainda sequer, título! Ah mas até pode ser de costas para o rio... Aceitei, institivamente o desafio... Mais tarde verifiquei o quanto estava certo. Vejam só:
De costas para o rio,
p'ra não ir nele p'ró mar...
Nesta terra árida de baldio,
procuro razões para amar...

Neste cantinho, terei oportunidade de me expôr. Muitos amigos meus me dizem, que a minha poesia é uma autobiografia. Não será totalmente assim, mas que ela de facto vem de dentro, vem. E, não será toda a poesia uma forma de exposição, mais ou menos esclarecida? Por isso tinha pensado pôr em rodapé, uma informação que diria:
Quem sou eu?
Aqui me fotografo,
para que me vejam...


E, para desanuviar um pouco, remando contra a ideia, que toda a poesia é quente e dramática, (onde é que fui buscar isto?), aí vai uma, que revela uma outra faceta dos que fazem poesia - a observação, a crítica e o humor. Cantigas de escárnio e maldizer, à moderna... presunção e....
Façam o favor de ser felizes, como diz o mais mediático cozinheiro da TV...

O chapéu da madame

Lindo o chapéu da madame,
pensava ela, toda fogosa,
enganava a balança,
balançava, balançava,
os quilitos, eram quilos,
adultos, adultos, robustos!
Mas o chapéu da madame,
tinha penacho colorido,
chamava as atenções!
Compunha um quadro,
de matrona parisiense,
ou de condessa austríaca,
a das valsas vienenses...
E ela baloiçava, baloiçava,
naquele andar disfarçado.
Mas o chapéu da madame,
esse era a felicidade,
dos transeuntes alegres,
que se recompunham,
do cansaço do dia a dia,
chorando a rir com a cena,
daquele baloiçar esquisito,
qual dançarina em pontas,
da gorducha da madame!
E ela, vaidosa, vaidosa,
com o chapéu de penacho,
colorido, colorido!
Eu vi a madame,
no século errado,
nas ruas de Lisboa,
e, recordei a cena,
ao som de Strauss pai,
ou seria do filho(?),
não numa valsa,
que o andar era de polka,
isso sim, de polka!
Eu o vi com penacho,
o chapéu da madame!

De costas para o rio...

Olá gente boa, que se prendeu nestas amarras. Vou iniciar este blog, com um poema, que alguém já intitulou, como a minha imagem de marca na poesia. Não sei se será assim, nem sei o valor da minha marca. Nele coloquei sentimentos que vivi, q uando o escrevi, e... Espero que gostem.

No teu poema

No teu poema,
sou o amor interrompido,
sou a amargura da despedida,
sou a figura da saudade!

No teu poema,
sou a nostalgia da noite,
sou o teu motivo de insónia,
sou a ansiedade redobrada!

No teu poema,
sou a tua vida renovada,
sou o teu grito de revolta,
sou a esperança da esperança!

No teu poema,
sou o teu pesadelo quebrado,
sou o regresso da tua luz,
sou o teu sorriso da manhã!

No teu poema,
sou o teu sol brilhante,
sou o fim da tua história,
sou finalmente eu, amor!