De costas para o rio...

Quero questionar-me, questionando-vos. Adoro a Paz real, aquela que brota sorrisos... Quero cantar sentimentos, desafiar os olhares do coração... Quero contar consigo, na parceria desta viagem... Por isso não quero ir para o mar, quero procurar as razões que dão amor... e, dele fazer um canto louco de alegria...

Nome:
Localização: Barreiro, Setubal, Portugal

sou alguém que é feliz...

sexta-feira, outubro 28, 2005

O cinema - conteudo, estética, sala e companhia.... e, pipocas...

Ficou claro que vou falar de cinema, e em tudo o que o envolve... até, das pipocas. Naqueles tempos, na então Lourenço Marques o cinema tinha uma importância forte. Não tínhamos TV, era o divertimento de eleição. O teatro, aparecia, muito pela teimosia e carolice duns quantos, que teimavam em fazê-lo. A censura, arrumava com os autores que mais queríamos (BBrecht? pois... miragem... quem era esse?). Mas voltemos à razão primeira, para nós adolescentes era uma das formas de namorar, com alguma liberdade (?), assim a modos que... mão na mão... como cantava a Silvie Vartan... Como sair à noite era um previlégio, uma sorte grande... nenhuma moça, que se prezasse, saía com o namorado à noite! Então eram as matinées, as eleitas, para o beijinho envergonhado e super rápido, e o entrelaçar de mãos que... fazia tremer corações. De tal ordem que ainda hoje isso me emociona! No meu livro (?) tenho algumas passagens, e escolhi uma para exemplo, e, depois, em homenagem ao cinema, cinema, uma alusão ao clássico dos "western" Rio Bravo, com um poemita muito à minha maneira. Feita a apresentação vamos a isso, esperando que gostem:


Idilio em Setembro

O dia nascera solarento, era sábado e isso aumentava o grau de "felicidade" dum estudante que se preze... No liceu tinha "apenas" Filosofia com o Catarino às onze e... antes as actividades da MP, que no caso dessa altura eram a "Rádio Mocidade" a emitir experimentalmente da Polana..... Não era em FM mas "a gente gramava à brava quando púnhamos no ar uns minutitos seguidos..." Se fosse hoje dir-se-ia "era fixe meu..." Mas este sábado era especial, a João fazia anos, tínhamos almoço volante em sua casa na Sommerchield, e depois íamos para a matinée, e para o Scala, mas sem "cowboyada" do costume, já que iríamos vêr uma comédia: Ídilio em Setembro ( Come Sptember) com o Rock Hudson, Gina Lolobrígida, Sandra Dee e o Bobbie Darin, o tal que cantava a escandalosa(?) (pr'á época, eheheheh) canção "Multiplication" e o Come September, de uma melodia espantosa e um solo de guitarra que me ficou sempre no ouvido... E assim foi, tudo se passava às mil maravilhas, o primeiro beijo tinha ocorrido, estava nas núvens, a aula do Catarino foi um primor, e como ele dizia "... vejam se se conseguem sentar, se sim, veremos em que fase de evolução se encontram, primatas..." 'távamos todos direccionados para o "encontro de amores" e a ansiedade tudo dominava. Depois das aulas apanhámos o dois, ali ao pé do hotel Cardoso e fomos até ao hotel Polana, e depois a pé até à casa da João. Grupo barulhento a manifestar a alegria da vida , qual "bando de pardais à solta" que um dos meus poetas preferidos, imortalizou... E, eu ali ao lado dela sem pais a espreitar, feito namorado a sério, de mãozinhas entrelaçadas, sentindo aquele calor gostoso do corpo de quem se ama, sentir aquele cheiro novo tão esplendoroso, qual perfume premiado em feira de Paris... O almoço foi uma pequena maravilha, os nossos petiscos queridos estavam lá todos , nenhum faltou! Era caril, sarapatel, chacuti, camarão assim camarão assado, carne assim, carne assada, não faltando a galinha à cafreal... os Vimtos, as coca-colas, as laranjadas canada dry, as spur colas, as 2M, as Laurentinas, bem controladinhas, por sinal....Também houve desassossego e tudo, que aquela malta era danadinha para isso, os nomes omito, claro, para não ferir susceptilidades, mas formávamos uma equipa de truz.
Depois deste lauto almoço fomos apanhar o autocarro para a baixa e para o Scala. Quando saimos de casa da João começou a pingar... grosso. O céu a ficar todo negro, vinha aí tempestade tropical... corremos para o autocarro e... lá seguimos já com chuva torrencial.
Chegámos à baixa e estava tudo alagado de água até aos joelhos.
Metade dos degraus da entrada do Scala estava debaixo de água. Que fazer? Fácil, levar as meninas ao colo para não se molharem... toca a tirar os sapatos e as meias, arregaçar as calças e pegar nas meninas... Meu Deus que coisa tão boa pegar ao colo aquela que "a gente namorava", sempre controlada e tão distante... Óh prémio saboroso, que maravilha... Foi o colo mais saboroso que alguma vez dei... Mas que foi um escandalozito, para quem via, foi. Naquela altura, meninos, pegar numa moça ao colo agarrada a nós,mesmo com inundação era.... malicioso. O filme foi a condizer e lá dentro, na escuridão da sala, foi uma tarde de carícias como nunca havíamos tido... ainda me arrepia, como tão pouco, pode fazer tanta felicidade... Depois o temporal fez o resto, os papás vieram buscar as meninas e a aventura terminou.
Mas que foi memorável foi... Gente já lá vão 44 anos, e parece que foi ontem...
Na inocência do acontecimento, a grandiosidade da lembrança.....

RIO BRAVO, bravo!
E, tanto me tenho lembrado das matinées, ali para os lados do Manuel Rodrigues, Gil Vicente, Scala, Variéta (quem se lembra?)... Dependia dos filmes... Pois, algures na Europa, no novo milénio, numa noite de insónias, mesmo com alguma febre, saiu-me na rifa da programação da tv um filme histórico, em vários sentidos: "RIO BRAVO". Um Jonh Waine à maneira, uma Shelley ainda curvilínea, um Dean Martin alcoólico-dependente bem esgalhado, um Ricky Nelson, com a sua voz quente, em contraponto com o Dean, e quase tão bonito como eu era (acreditem...) ( se eu não me gabar quem o fará?), enfim todos os ingredientes para uma direcção do MESTRE, num clássico que permanece na memória de todos. Também o filme me fez recordar a nossa terra, aquelas tardes de "namorico-cinematográfico", aquele pegar na mão que fazia estremecer o coração...
O quebrar duma angústia de semana, enfim o abrir e fechar dum ciclo sempre renovado... Parafraseando a letra da cantiga do filme, e numa adapatação totalmente livre, a minha memória disse-me:

Rejubilava na tua presença,
experimentava o teu calôr,
a tua mão na minha,
entrelaçavam-se,
com sofreguidão e doçura.
Os nossos corações
esses cavalos de corrida,
batiam céleres,
assinalando cada fase,
daquele maravilhoso encontro.
E, nós, de pensamentos
em ebulição contínua,
corriamos um para o outro,
como um rio para o mar,
como as águas revoltas,
do rio Bravo do meu coração!




terça-feira, outubro 25, 2005

Os sons e os tons de áfrica... o dia e a noite


Olá. Mesmo sem dar tempo de leitura, ao texto anterior, mas que recomendo, porque foi parido com dôr, mas recordado com saudade positiva. Hoje vou presentear uma amiga que me tem visitado e falou precisamente no tema de hoje. África tem características próprias ambientais, por vezes, parece que o Criador colocou ali um pintor especial. Os tons são únicos e transformam-nos, consoante a altura do dia. A Betty falou do pôr do sol africano, com muita razão, mas a noite, e o nascer do dia, têm tons muito especiais. Penso, que nenhum pintor fica indiferente a tais metamorfoses, e muito poucos os que, não sendo africanos, de nascença ou de permanência, conseguem pintá-los. O poema de hoje tem algum tempo, mas tenta dar uma ideia, do que pode ser um dia e uma noite. Espero que gostem, especialmente tu Betty, a quem dedico esta pintura por palavras...


Noite e Dia africano...

O DIA

Nasceste,
e, logo me acordaste,
na frieza do teu sopro,
na claridade esplendorosa,
da tua essência universal!
Depressa me confortaste,
depressa me trouxeste calor,
aquele calor envolvente,
cheio de ideias brilhantes!
Na frescura daquelas águas,
me refresquei e me deliciei!
O sumo generoso do fruto,
daquele fruto genuino,
que desceu do alto,
da sua progenitora altiva,
protectora e centenária,
me saciou, me deliciou!
Oh destino bom,
a tua presença airosa,
marcou logo o compasso,
do apressado coração,
cheio de amor e ansiedade.
Tudo mudou à minha volta,
sãos as aves coloridas,
no chilrear da felicidade,
são os teus risos cúmplices,
é o viver, é o viver.
Na acalmia de fim de ciclo,
a luz cede o seu fulgor,
às cores pintadas pelo Criador,
e o frio regressa à nossa pele,
é o dia africano que termina,
no seu ritual de beleza,
côr, vida, e ... saudade!


A NOITE

A sinfonia do silêncio,
feita de múltiplas formas,
de notas únicas,
que me embalam,
num berço maticado,
ao fogo dos braços secos,
outrora suporte de vida,
agora conforto da alma!
De quando em vez,
o silêncio interrompe-se,
o grilo que procura fêmea,
a coruja além que se manifesta,
é o rugido imponente do leão,
o grito aflitivo do macaco,
afinal, o bater de corações aflitos,
da fauna que se renova!
Escuto o teu pensamento,
procuro os teus lábios,
suporto os teus seios,
sinto o teu corpo quente,suado
o teu cheiro me invade,
e fico de coração apressado,
outra vez, e me enlaças,
numa comunhão perfeita,
de amor sem reservas.
E, a noite cai mesmo.
O dia prepara a sua chegada,
e, nós, vencedores, felizes,
agradecemos a benção,
do Criador, africano....

segunda-feira, outubro 24, 2005

Memórias da minha adolescência - Pensar em abstracto...

Sem comentários, no folhear do livro, este pequeno episódio, duma tarde de estudo, num café conhecido da então Lourenço Marques. Uma pequena nota para a figura, incontornável do Maestro Artur Fonseca, autor da Casa portuguesa, mas também do Moçambique, Inhambane, Lourenço Marques, O meu chapéu... etc... Espero que gostem desta mistura.

Memórias da minha adolescência - Pensar em abstracto...

Fui para o café do Rádio Clube. Sentei-me na mesa do costume, estava determinado a estudar. O teste de Filosofia, tinha de ser ganho, para usar um termo do Catarino. Não que as matérias em questão, fossem complicadas, mas ele havia jurado, que nos colocaria a raciocinar em abstracto. Como? Essa era a questão. Percorria os títulos dos capítulos da matéria dada, e tentava descortinar, por onde iria ele tirar o coelho da cartola. Sem saber como, dei por mim a imaginar-te, a milhares de quilómetros, numa Lisboa desconhecida, numa faculdade nova, com novos conhecimentos. Imaginei-te cortejada, vi o teu olhar... e, então escrevi:
Apareces no meu imaginário,
com o teu/meu sorriso,
absorvo-lhe a mensagem,
e quedo-me na realidade!
Estás longe,
aquele sorriso me foge,
já não é meu,
e o sonho termina abrupto!
Fico triste. Releio o que escrevi, e tento concentrar-me. A despedida, tinha sido o prenúncio, duma vida com destinos opostos. Estava no dealbar dum luto tardio e lento, dum amor que se firmou bem forte e, não conseguia mesmo concentrar-me. Escrevi outra vez:
Na despedida te perdi,
mas no meu coração não,
e, dele não sairás, pressinto...
Vou ter de viver assim?
Na tua ausência física,
e na tua presença imaginada?
Descansei um pouco, interrompido pelo criado de mesa, que saía de turno, e queria o dinheiro do café. Além, na mesa do canto Artur Fonseca, de monóculo a seu geito, acenava-me dando conta que havia chegado e eu não tinha dado por ele. Pedi-lhe desculpas, era uma pessoa espantosa, de respeitabilidade e educação. Voltei à Filosofia... ai Catarino, Catarino, que nunca mais vais para Nampula, para onde se dizia que iria no final do ano lectivo. Pensar em abstracto... como? O que quereria ele dizer? Voltei outra vez a imaginá-la, na Ponta do Ouro, quando aprendi que as mulheres afinal tinham período... e dei comigo a sorrir... Lembrei-me do Idílio em Setembro (Come September) com a canção "Multiplication", que tanto brado deu, numa comédia que proporcionou uma matinée para relembrar, com os carinhos habituais, da mão na mão, como cantava a Silvie Vartan e... escrevi:
Sinto a tua falta,
cada objecto me recorda,
a tua silhueta,
a tua face rosada,
o enquadramento do teu olhar...
Começa a escurecer, e afinal que estudei eu? Tento vêr, o que se pode salvar, daquela tarde de estudos, duma filosofia "catarinizada", agora sob o espectro do pensamento, em abstracto? Não demorou muito o regresso à imagem daquela mulher linda, que tinha revolucionado a minha vida. E, o pior é que não queria evitá-lo! E, mais uma vez escrevi:
Naquela praia,
em dia de chuva e sol,
passeámos à beira mar,
recolhemo-nos naquela rocha,
os nossos corpos se enlearam,
fomos um só, naquele prazer,
do amor que esbanjávamos!
Indiferentes à chuva,
bebemos as gotas,
do elixir desse amor!
Decididamente iria chegar tarde ao jantar, eram já oito horas, desde as duas da tarde a tentar estudar filosofia e, o tal "pensar em abstracto" e... nada! Só ela, aquela miuda pequerrucha, de pouco mais de metro e meio, de nariz arrebitado, física e mentalmente, que me tomava conta da mente, sem margem para desvios. Por último, uma nova imagem de despedida, e, voltei a escrever:
Apareces-me de sorriso franco,
sabes que me tens por inteiro,
vêr-te-ei sempre por aqui,
afinal esta casa não é tua?
Terei outros amores,
mas sabes o que foste,
neste coração saudoso,
por isso me sorris,
por isso te instalaste,
na minha vivência do passado,
nas recordações,
do que mereceu a pena viver!
Regressei a casa preocupado. Não tinha estudado nada. De repente, dei comigo a pensar, não teria eu estado a ensaiar, modos de "pensar" nunca dantes "navegados"....
Obs: ... tive a melhor nota da turma 12...

Ricky Mai.2005

sexta-feira, outubro 21, 2005

Moira Encantada

Voltei à poesia neste intervalo das memórias... Apenas um intervalito, para vos mostrar a minha "Moira Encantada", uma poesia idealizada, num desafio que me foi lançado há tempos, em parada e resposta, sobre o amor dum lusitano por uma moira encantada... Isto, claro está, passado em épocas da cavalaria, das juras de amor, dos cavaleiros... espero que gostem.

Moira encantada...

Oh moira encantada,
que me enleaste em fios de seda,
tecidos ao luar,
dá-me o sol p'ra caminhar,
dá-me o vento para navegar,
dá-me a areia para cavalgar!
Por terras do sem fim,
levarei a tua imagem,
e nela me fixarei,
p'ra cantar vitórias...
Neste castelo de ilusão,
onde me reténs,
minha moira donzela,
p'lo encanto das mil e uma noites,
escuta o choro da cítara,
que derrama lágrimas salgadas,
pelo teu inquieto olhar!
Dá-me a chave,
deste sonho lindo,
deixa-me espraiar a imaginação,
dá-me, de todo, a libertação!

Ricky

sexta-feira, outubro 14, 2005

Histórias da minha vida II

Porque se mostraram interessados, meus caros amigos, aqui vos deixo, mais umas páginas do meu "livro", ainda referente ao centro de Moçambique. Este texto que extraí, mostra propositamente alguns aspectos da vida social no mato... Algures em áfrica...

Memórias da minha infância - Charre IV
A vida social no "mato".
Introdução
Só quem não conheceu a vida no "mato", estranhará o tipo de amizade, e solidariedade humana que se desenvolve, entre as pessoas que, por esta ou aquela actividade, tiveram, eu diria, a felicidade de têr tido essa experiência. A vida era difícil, os recursos por vezes escassos e muito distantes, mas a tal solidariedade matava tudo isso, na maior parte dos casos. Começava-se por lamentar a pouca sorte do destino, para depois se chorar na despedida. Só assim, pouco mais de cinquenta (50) anos depois, um jovenzito de oito para nove anos, se recorda com saudade do tempo escasso que lá viveu - dez meses! Moçambique, marcou os seus cidadãos, marcou aqueles que tiveram a felicidade de lá viver, desprovidos de ideias coloniais. Tiveram, eu diria o seu prémio! Como era bom sentir a pujança do ser humano! Nunca mais voltei a sentir, com aquela intensidade. Oh Moçambique, bem hajas...
As visitas...
Como era hábito, todos os vizinhos se visitavam, isso tornava a solidão menos agreste e o serviço menos castigador. Com temperaturas acima dos quarenta graus, por norma, durante muitos meses, a jornada era fortíssima. Por isso as noitadas, até às onze da noite, no máximo, eram frequentes. Os dias começavam cedo, mas jantava-se às sete horas! Lembra-me no Charre, as visitas aos Ivos da Silva, casa de recepção fidalga e prazenteira. As visitas aos Morgados de Tamantine, a caminho da Markka. Era uma alegria! Ao Gil, da alfândega, em nossa casa e, naquela aldeia e arredores, todos se juntavam em harmonia. E, depois havia os fins de semana, sobretudo os domingos...
O Clube Ferroviário de Mutarara (velha)
A importância do clube era determinante. Ali se jogava ténis, se jogava Bridge, King, Sueca... e bailava-se todas as tardes de domingo, com um conjunto maravilhoso, muito conhecido "GIRA DISCOS" com as músicas mais actuais e ... aquelas que não perdem idade, e ganham na intensidade do sentimento... Pois, eu era miudo e sabia que a festa ia até às dez da noite, e havia o regresso ao Charre. A viagem de volta, envolvia cuidados, pois para se não dar a volta por D.Ana e Baué, íamos pela serra cortando caminho, mas com mais um carro pelo menos, por causa dos leões. O nosso jeep Willis era de capota de lona, e se por acaso avariasse, ou furasse um pneu.... era um sarilho dos antigos... Normalmente era o Ivo da Silva (filho) que nos acompanhava, e por isso tudo bem... Em Mutarara (velha) o primo do meu Pai, Joaquim Brites, chefe da Revisão de Material dos CFM, tinha lá a sua casa no bairro do Ferroviário, que distava da Mutarara (nova) bairro civil, onde ficava a Administração do Concelho. Atenção, malta de Inhambane, o primo do meu pai foi depois transferido para lá, e a minha prima (filha) Fátima foi aquela piloto aviadora do Aeroclube que aterrou na estrada de Inharrime - Maxixe por falha de motor...
As minhas coordenadas...
Sempre que me recordo destas maravilhosas paragens, ( com a maravilhosa ajuda do meu Pai, que tem uma memória fabulosa - 92 anos bem vivos, graças a DEUS) não deixo de me situar, no Charre, naturalmente, no rio ZIU-ZIU mesmo perto de minha casa, no Baué, D. Ana, Mutararas, Dondo, Port Herald, Markka, Tamantine, nos chocolates que se compravam no comboio da TZR, em dia de são comboio, nas caçadas aos crocodilos no Zambeze, mas sobretudo das pescarias com os meus amiguinhos do Charre, onde vivi belíssimos tempos.
Conclusão
São momentos que não esquecerei. De facto, ali vivi e compreendi a cultura de um povo, as suas diferentes formas de se relacionarem, mas sempre admirando o seu caracter, a sua forma pacífica de aceitarem a nossa presença, e o orgulho de presenciar que a grande, grande maioria, dos portugueses se portavam como seres humanos maravilhosos... Havia excepções que não quero sequer recordar, e nunca o farei... Se fosse possível agradecer àquele povo fá-lo-ia agora com muita emoção...
Obrigada pela atenção.
Ricky

terça-feira, outubro 11, 2005

Histórias da minha vida...

Ao longo dum tempo já "crescidote", cerca de três anos, que me atrevo a escrever, em sites de amigos, memórias da minha vida em Moçambique. São relatos, mais ou menos conseguidos, que pretendem, sem fastios desencorajadores, para quem lê, realçar duas coisas importantes para mim. Reviver a história, e afirmar o quanto amei aquela terra, e aquele Povo maravilhoso, que me viram nascer. As memórias estão já desenhadas para serem parte dum livro(?), pelo menos, alguma coragem já grangeei para poder pensar nisso... Hoje trago-vos uns excertos, de vida no mato, no centro de Moçambique, onde consegui em tão pouco tempo, atingir níveis de apego e felicidade, como se calhar em mais nenhum outro pedaço da minha vida. Foram experiências novas, determinantes para que a minha formação de "moçambicano", se fizesse com autenticidade africana. Qualquer coisa distante do citadino, africano sim, mas citadino, longe do pulsar da vida africana, da vida no mato. Feita a apresentação, aí vai a minha primeira mostra, do meu futuro (?) livro. Quem sabe? Entre poemas e memórias alguma coisa hei-de produzir. Tenho dois filhos, dois netos, em vésperas de mais dois (duas?), gémeos, já plantei muitas árvores, já fiz poemas, falta o livro... Espero que gostem.


Memórias da minha infância- Charre-I

Regressávamos de férias graciosas, de Portugal, com a família Peixe, ( da Fazenda de Inhambane) nossos companheiros de férias e viagem, no paquete Pátria. Tinha oito anos, e se havíamos ido, partindo da Manhiça, agora regressávamos a ... uma terra, que o meu Pai iria saber onde ficava, na Repartição de Veterinária. Soubémos depois que havia sido colocado no Charre (?!). Claro que procurando especificar mais, saberíamos depois que ficava perto de D.Ana, e de Mutarara, na margem norte do rio Zambeze, junto à ponte ferroviária maior de áfrica (na altura, dizia-se...). Fazendo base na Beira, lá começámos a preparar tudo para esta nova aventura. De comboio, dirigímo-nos de bagagens e algumas peças de mobílias pessoais, para o destino que nos estava traçado. O Charre era uma povoação "importante" com umas cantinas e três casas , a nossa, a do Sr. Gil, funcionário da Alfândega, (tinha uma corrente simbólica junto à casa para "fingir" que era ali a fronteira), e a do importante criador de gado, senhor Ivo da Silva, velhote reformado, e seu filho, que havia sido comandante da canhoneira do Zambeze, que fazia carreira do Chinde para Tete. Meu Deus, mesmo no interior e... numa parte de Moçambique que não conhecíamos... A minha irmã, à beira dos dezasseis anos, que tortura... mas, nem tudo era assim tão mau... logo, logo, fomos para o Charre, e verificámos que tínhamos em frente, a serra da Murrombala, lindíssima, com a sua coroa (nuvens) de majestade, sempre posta e sempre esplendorosa. O sr. Gil era uma pessoa fantástica, os Ivos , pai e filho, duma simpatia e urbanidade especiais. Ele, o velhote era um contador de histórias de se tirar o chapéu, tudo à volta das suas inesquecíveis e históricas viagens de barco, que como oficial comandante, tinha um papel relevante... Depressa nos acomodámos e, em férias escolares, queríamos conhecer mais e mais dali. Comecei por estranhar os muros altos de cimento e pedra, dois metros e meio, mas depressa, depressinha iria saber para que serviam... A casa, rodeada de árvores de grande porte e de algumas mangueiras, bem docinhas, que ainda hoje me deixam de água na boca, e de romanzeiras que faziam as delícias da minha irmã. Entretanto, arranjei logo uns amigos da zona, moçambicanos, e ràpidamente fizemos sólida amizade. Uma das actividades que logo aprendi, foi pescar, num afluente do Zambeze que provinha da Morrumbala e passava ali mesmo junto a nós. Com enseadas de água baixa, e muito canavial, era ali que pescávamos, munidos de canas cortadas à medida, fio de pesca comprado na cantina, e boias feitas de rolhas de cortiça. Depois era a habilidade em tirar o peixe da água, com esticão rápido quando a rolha dava sinal... O isco era a minhoca que nós arranjávamos rasgando o terreno junto ao rio. Mas tínhamos de estar alertas para os "coaches", lagartos de dois metros, língua comprida que tinham medo de nós, mas afoitavam-se por vezes. Era um consolo vê-los porque era sinal que os jacarés andavam longe...
Aos fins de semana, íamos a Mutarara, a casa dum primo nosso, revisor de material dos CFB, e íamos ao Clube Ferroviário, onde aprendi a beber a Spur Cola, que vinha da Rodésia, ali ao pé de nós, de Blantyre. Jogava-se lá, ténis e futebol, para além dos bailaricos, e jogatanas de cartas, que eu não podia assistir porque não tinha idade... Vinham pessoas das redondezas, do quartel, que ficava situado junto a D.Ana. Foi um pedaço da minha vida, que me marcou bastante, onde aconteceram factos que relatarei a seguir, que me ajudaram, e de que maneira, a amar aquele Moçambique tão desconhecido dos citadinos...


Memórias da minha infância - Charre II
Leões, e não só... I parte


A táctica do leão...Ele urra e elas trabalham...

Eu diria mais,tão desconhecido dos geitos das terras do interior sul... Os muros altos que circundavam o quintal, faziam-me cá uma curiosidade enorme, mas julgando que era "normal" calei-me, e nada perguntei. Iria sabê-lo de forma dramática. Numa das noites seguintes à minha chegada ao Charre, estava eu no meu quarto, a dormir profundamente, ouvi um som aterrador que jamais esquecerei! Um leão urrou mesmo debaixo da minha janela! Não sei porquê, disseram-me mais tarde que tal ousadia não era habitual, nem se lembravam de tal ter acontecido alguma vez, e se calhar havia um motivo: lá em casa somos todos do Benfica... O leão ficou junto da janela, enquanto as leoas saltaram o muro do quintal, e levaram com elas dois cabritos, que o meu pai havia comprado há dois dias. Assim, mesmo, sem tirar nem pôr. Dentro de casa, o pânico, era generalizado, que fazer? Ninguém tinha o hábito, de aturar leões àquela hora, sobretudo leões verdadeiros de juba e tudo... Mas, quando o meu pai agarrou a espingarda, uma calibre doze (!?), que só servia para assustar, com o barulho e pouco mais... os leões já haviam dado o golpe de mão, de pata quero eu dizer... o urrar já era mais perto da serra do Murrumbala... Que experiência mais engraçada, para contar aos vindouros, sem a particularidade de "particularizar" aquele susto e meducho tremendo... de tremer mesmo!

Um leão com um "burro às costas"...

A segunda experiência leonina, deu-se numa visita nocturna ao quartel. Estávamos a prepararmo-nos para regressar a casa, aí pelas nove e meia da noite, depois dum jantar de truz, na messe de oficiais e sargentos. Ouviu-se um estardalhaço enorme, uma algazarra e gritos de leão, leão! O que tinha acontecido? Simples, um leão velho, cheio de fome "ousou" saltar o muro do quartel, filar um dos burros usados, para ir buscar água ao Zambeze, e voltou a saltar com ele filado, para o lado de fora... Vejam a força... se o Sporting sabe... Planificou-se logo uma caçada ao leão, que essa desfeita aos militares iria ficar cara. Claro que participei, caladinho, no "jipe" Willis da veterinária, mais a minha mãe e irmã, com um oficial de guarda costas, para o que desse e viesse. Procurou-se por todo o lado, com focos de longo alcance, alimentados por baterias, percorreram-se os caminhos todos à volta, e nada! Entre a estação de Mutarara e o quartel, nada! Não podia estar longe, dizia-se à boca cheia, um leão velho, solitário, com um burro "às costas" não podia estar de facto longe! Às duas da manhã desistimos, a "derrota por nove a zero" era um facto, viva o Sporting! No dia seguinte o mistério desfez-se. O leão transportou o burro, para debaixo duma ponte, pertinho da estação, na linha para o Malawi, depois do cruzamento com a de Tete, e ali paulatinamente comeu o que lhe apeteceu! E, nós que estivemos em cima da ponte, com algazarra e tudo! Ah leão, que até se terá rido e tudo!

Porco, em vez de vaca, e uma patada de leão...

A terceira história dum leão, que enriqueceu a minha experiência de vida, dá-se no Charre, na aldeia indígena (como se dizia, então...) onde um leão velho roubava comida, e punha aquela gente em pânico... Havia que fazer alguma coisa. O Ivo da Silva, planificou uma espera. Tudo na aldeia estava preparado, para o leão entrar e seguir para o centro, onde se tinha posto carne crua (uma perna de vaca). O corredor era claro, só por ali se poderia prever que ele entrasse. Todo o mundo estava armado de varapaus e latas para fazer barulho, e as armas de fogo, Ivo da Silva e Gil, no fim da sequência normal do circuito. Só por ali poderia passar... Bom, o leão veio, entrou por outro lado, apanhou um porco no curral, e aí, descoberto, todos correram para lá, desordenadamente, o que evitou os tiros para não haver acidentes. À passagem pelo cordão humano o leão, não usou de garras (senão teria inexoravelmente morto a pessoa) pôs apenas a pata em frente, no peito do homem que tinha à sua frente, como a dizer "deixa-me passar", e foi... O homem ficou com quatro costelas partidas, mas sobreviveu... (continua)...










segunda-feira, outubro 10, 2005

As metamorfoses das nossas vidas...

Todos nós já enfrentámos dias difíceis, daqueles que nos fazem exclamar: "... mais valia que este dia não existisse...". E, de repente, por esta ou por aquela razão, o nosso semblante se modifica, e tudo volta à normalidade. Também, a nossa disposição toma a côr do que lhe é dado vêr, sentir, e... adivinhar. Temos uma necessidade premente de prevêr o futuro. Desde sempre, que o homem se esforçou para o fazer... As estrelas, ah as estrelas, depois já astros, depois até conjuntos... A lua, essa participante de sonhos e mais sonhos, cantada por poetas menores e maiores, também aqui com uma intervençãozita, digamos peculiar, a determinar nascimentos, sexos dos nasciturnos, datas, em manifestações específicas, agregadas à mulher... Pois, eu não fujo à regra, tento guiar-me por sentimentos positivos. Há dias, falávamos de poetas, se eles podiam, ou não, mudar a vida das pessoas, com as suas poesias, quase sempre exclamações da alma, da famosa alma dos poetas. Verdade, é que a poesia toma várias formas, algumas de conteúdos bem diferentes e nada revigorantes, com prenúncios dramáticos, de lagriminha no olho e na alma. Outras, porém, sacam o melhor de nós para o exterior, dão-nos conforto. É só a poesia? Penso que não, há textos maravilhosos, que têm um condão mágico de nos proporcionar, uma viagem pela terra do bem estar. Há mesmo alturas, que se classificam textos, como "textos poéticos". Porque será? Porque a poesia tem esse raro condão de penetrar, com mais facilidade, no nosso casulo superior, das memórias e do pensamento? Se calhar... Esta reflexão despretensiosa e leve, serve para vos dizer que tentei "brincar" com um poeta, que gosto muito - Vinicius de Morais. Como? Começando um poemita, para dar seguimento às palavras sábias dele, isto é, finalizando utilizando-as. As palavras foram:
"É que um dia,
em teu corpo de repente,
hei-de morrer,
de amar mais que pude"
Como fazer, para terminar assim? Tentei e me apresento aqui, de corda ao pescoço, a julgamento...
Presunção minha, nesta mistura? Não! Respeito e muito, isso sim...
Consegui?

O Amor do amor....

Eu te amo por amor,
do amor sòmente.
Não te amo pelo olhar,
pelo teu sorriso aberto,
pelo teu modo de falar...
Amo-te porque sinto,
em cada momento que passa,
a minha alma em comunhão,
uma comunhão constante com a tua.
Não meço o tempo,
quando te envolvo em mim,
ignoro minutos e horas,
até dias e noites,
o princípio e o fim,
nosso amor é um momento,
mas um momento sem fim.
"É que um dia,
em teu corpo de repente,
hei-de morrer,
de amar mais que pude"
Ricky
Excerto final de Vinicius de Morais
de Soneto de Amor Total.

terça-feira, outubro 04, 2005

Naquela janela...


As composições em verso, chamem-se poemas (para os formais...), ou versos encadeados, para os mais "rasteiros", podem por vezes contar estórias... Estórias de amor, as mais esperadas, pois não é o amor que nos escalda a vida? Mas também outras, assim como "O chapéu da Madame", uma caricatura duma aparição real, em pleno Chiado... Assim, a modos de cantigas de escárnio e maldizer, em modo "soft", modernizado, humorificado em linguagem usual... Esta estória, foi-me contada. Tem uns arranjos "à minha maneira", sem a teimosia do Sinatra... para dar apenas um pouquinho de "suspense". O final trágico-cómico, desmonta por inteiro, o julgamento precipitado. O que parece afinal não é... para gáudio de uns e vergonha de outros. Vejamo se consegui mostrar isso:

Naquela janela

Nesta rua tão simpática,
há uma imagem que fica,
naquela bonita janela
aquela figura tão bela.
Ninguém ficava indiferente,
elas, com ciume evidente,
eles, com olhos bem "feitos",
de propósitos "insuspeitos".
Só o ardina na barraca,
ficava mudo como uma estaca,
olhava de soslaio,
p'lo cantinho do olho,
como um catraio,
c'um rebuçado p'ro molho.
Os dias passavam felizes,
suaves como voos de perdizes,
sem vislumbre de caçador,
nem notícias de valor!
Os machos, m'ai'los machões,
faziam apostas aos montões,
era "amor", "amor" aos repelões,
até fazia doer os corações...
E, rua abaixo, rua acima,
as surtidas continuavam,
e ainda por cima,
todos se entusiasmavam.
............................................
Ah! a janela se fechou,
mas que foi que se passou?
Que tarde triste aquela,
sem a figurinha da janela!
Aquela "figura" adoeceu,
e, então tudo se esclareceu,
era um "travesti" cuidadoso,
muito bonito, muito meloso!
Ele se transformava,
dos cabelos à cintura,
naquela janela espreitava,
e assim montava a estrutura.
Foi um "bruá" danado,
elas de sorriso rasgado,
de olhar matreiro como adorno,
eles, com sentimento de... corno!
Mas a alegria retornou,
o engano, a todos ensinou,
a guluseima não é só côr,
é preciso provar o interior.
E o ardina continuou,
de olhar matreiro, gozão,
nesta estória participou
como o artista espertalhão.
P'ró espectaculo terminar,
basta a sua janela fechar,
pôr bem os pés no chão,
e guardar o seu coração!

domingo, outubro 02, 2005

Em memória

Para este poema, que delicadamente "me saltou" para o teclado naquela altura, não vou fazer comentários... Doeu...
Obrigada por me lerem...

EM MEMÓRIA
Na luz fria daquela manhã,
dum sol meio envergonhado,
espreitando nas nuvens negras,
dum dia que não esquecerei,
saiste com o passo apressado,
e, por um momento fugaz,
escondeste-me o teu olhar,
como se evitasses segredo mau.
Pressenti tudo o que não queria,
repudiei tudo por amor,
descansei esperando o regresso,
em dia de sol real ou imaginado.
Os dias passaram lentos,
do norte não regressavas,
até que o segredo foi mais forte,
que a tua vontade de vencer!
O câncer, esse "bicho" maldito,
ultrapassou a tua vontade.
Fiquei mais só, mais pobre,
mas tenho a saudade boa,
do teu olhar cintilante,
não o que fugiu à verdade,
que me nunca me confessaste,
mas aquele que revelava vida,
amor, paciência, dádiva,
de pediatra de coração,
e de mulher a tempo inteiro!
Até sempre!

Ricky